09 December, 2006

Se seguir em frente caio.
Se voltar para trás perco-me.
Se ficar parada morro.

Não há certezas na vida.
Mas eu gosto de ter uma, ainda que ilusória...
Quero andar e não consigo. Não quero ficar assim parada, mas mil cordas agarram-me e não me deixam sair do sítio. Mil cordas que eu própria amarrei...
Deixa-me girar até ficar tonta e cair no chão a rir.
Deixa-me gritar e espernear até eles chegarem e me levarem daqui para fora.
Deixa-me fazer isto de uma vez por todas.
Deixa-me saltar para a escuridão e cair para sempre.
Deixa-me enlouquecer-me.
Mas antes disso, deixa-me ser EU.
Deixa-me.

Maldita.

Pontos de interrogação. Outra vez.

"No one can find the rewind button, girl. So cradle your head in your hands"

06 December, 2006

Perfeição

Às vezes acho que a vias em câmera lenta, como nos filmes. Olhavas para ela com os olhos a brilhar, como se ela fosse a criação mais bela da Natureza, como se não houvesse nada no Mundo tão especial, tão... perfeito.
Irrita-me, a perfeição. Desisti de lá chegar antes mesmo de começar a tentar. Mas ela nem sequer tentava. Era naturalmente perfeita, com o seu riso contagiante e os seus movimentos suaves. Comecei a vê-la como tu a vias. Via-a também em câmera lenta, a andar como uma modelo profissional, à minha frente, enquanto eu me esforçava por não tropeçar nos próprios pés. Olhava embasbacada enquanto ela cativava todos com as suas histórias loucas. Calava-me. Sentia-me nada, como se já nem sequer existisse, como se apenas o meu corpo estivesse ali, porque o espírito, mais do que apenas voar para outro sítio qualquer, tinha desaparecido. Ela anulava-me.
Ouvia-te a falar dela, dos teus planos para a conquistar, para a fazer finalmente reparar em ti. E chorava e ria ao mesmo tempo, e tu perguntavas "O que é que tens?" e eu dizia que era da constipação, ou das lentes... E tu nunca percebeste. Em ti só havia espaço para ela. Eu era o empecilho, e ninguém quer empecilhos no meio do caminho. Por isso eu lá ajudava nos planos mirabolantes, e continuava a chorar e a rir ao mesmo tempo, porque a ironia sempre me deu vontade de rir...
E tu nunca soubeste que eu te via em câmera lenta...
Hoje rio-me da perfeição. Porque não existe. E Ela é a prova disso. Está gorda, feia e odinheiro que tinha gastou-o a pagar o advogado do namorado mafioso. Perdeu a cor e o brilho. Perdeu o sentido de humor e a paciência. Está fria, arrogante e cínica. Ninguém diria que era a mesma pessoa que te roubou o coração há tanto tempo atrás. Tu? Tu dizes que nunca a conheceste. És feliz, com uma rapariga que não flutua, anda como todos nós e também tropeça nos próprios pés de vez em quando. Amas alguém real e não uma ilusão. Não uma imagem pré-fabricada de alguém que não era, parecia. A perfeição, mesmo existindo, é uma seca.
Hoje sei como é fácil vermos as coisas adulteradas. Hoje sei que talvez pudesse ser eu a rapariga que vias em câmera lenta, se esperasse mais uns anos. Mas como empecilho bem-educado nunca me dei essa oportunidade. Mas gosto de me lembrar. DEla. Da perfeição. E das ilusões. Porque sei que se me olharem com os olhos a brilhar, é por quem sou, não por quem quero parecer.




Porquê este texto? Por tudo. Por nada. Porque está na altura do ano em que me lembro. Porque há certas feridas que não saram. Porque às vezes gosto da dor. Da psicológica. Às vezes gosto de sentir que ainda tenho algo cá dentro. E gosto muito, mas mesmo muito, da imperfeição que sou.

12 November, 2006

Dia 6

Ora bem... O dia de hoje começou com mais um ataque de dores, seguido de ida ao médico que receitou antibiótico mais forte de todos, seguido de telefonema a prima médica que sugeriu análises ao sangue para ver se isto não seria uma mononucleose infecciosa (nome giro, hein?), pois caso fosse bem podia andar anos a antibióticos que isto só iria piorar. Agora, vamos por partes...

PARTE I
Hospital
13:30 - Chego ao hospital, onde peço para me fazerem uma análise ao sangue para ver se tenho o tal bicho de que falei lá em cima. Omito ao médico que desmaiei da última vez que me tiraram sangue. Ele não precisa de saber. Diz-me que a análise deve estar pronta em 1 hora.

14:30 - Vou perguntar pela análise. Nada feito.

16:00 - Vou outra vez perguntar pela análise. Ainda não sabem de nada.

16:30 - Vou buscar o meu 3º leite com chocolate à máquina que está lá fora. Vem um seropositivo ter comigo e diz-me "Eu até te podia assaltar, que não está ninguém a ver, mas acho que é melhor fazermos isto numa boa, não achas?". Dou-lhe 4€, ele diz "obrigada fofinha" e vai-se embora. Tenho um ataque de nervos e desato a chorar encostada à máquina. Não ajuda não comer nada há 4 dias... Como a bendita da infecção arranjou maneira de passar para os dentes até sopa já me custa a engolir. Hoje de manhã vi pessoas num café e deu-me vontade de chorar. Parece que pertenço a uma raça à parte. Sempre enfiada em casa, e privada do meu prazer número 1: comer. Amaldiçoo-me pelas vezes em que me deu vontade de pôr aparelho nos dentes, para me doerem e não poder comer. Estupidez monstra.

17:30 - Mandam-me ir lá dentro à procura do médico, e com sorte da análise. Vou para a sala onde ma fizeram. O médico diz-me que perderam a minha análise e vai à procura dela. Fico enfiada numa sala juntamente com duas enfermeiras que tentam enfiar um tubo de plástico gigante pelo nariz de uma velhota. A velha estrebucha e berra de dores, mas ninguém lhe liga nenhuma. Há claramente algo de errado naquilo tudo, mas só o que as enfermeiras dizem é "enfia com mais força".
De repente a velhota desata a deitar sangue pela boca. Espero que alguém tenha a decência de fazer alguma coisa, mas uma delas diz "eh lá, será que estamos a fazer qualquer coisa mal?" e a outra rapidamente responde "não, enfia-me já esse tubo na mulher". A seguir começa a trautear a "Já não há estrelas no céu", do Rui Veloso, que está a tocar no mini rádio, enquanto a pobre da velha sangra abundantemente. Depressa repara no meu olhar de desaprovação e choque absoluto, e me manda ir esperar fora da sala.

17:50 - Aparece o médico com a 2º via da folha com os resultados da análise. Parece que não tenho mononucleose nenhuma, e vai mesmo ter de se tratar isto com a dose de cavalo do antibiótico.

PARTE II
Caminho para casa
São apenas 10 minutos de carro, e ainda assim servem-me para tanta coisa: Deprimo-me a pensar nos meus anos, para a semana. Mais um ano doente. Nunca mais me esqueço da 1ª vez que ia fazer festa de anos... Estava super contente, mas fiquei com varicela e o meu pai teve de ir à escola dizer que a menina já não ia fazer festa, coitadinha. Ninguém gosta de estar doente nos anos, mas eu tenho um ódiozinho especial.
Tive um acesso de choro quando vi uma mota da pizza hut... Era capaz de matar para poder comer algo sólido.
O caminho para casa ainda serviu para saber como vou enriquecer: Vou escrever um livro baseado na minha experiência com hospitais. Assim um registo cómico/satírico, sobre as (infelizmente) muitas experiências hospitalares, sobre as pequenas e grandes desgraças que presenciei em cada ida, sobre as atrocidades lá cometidas, enfim... sobre aquele maravilhoso mundo que toda a gente adora. Além de vender que nem bolos, ainda fico milionária de certeza.
Só não sei até que ponto será sensato estar a dizer isto aqui: ainda me roubam a ideia.
... Livrem-se!

PARTE III
Sesta
Durmo 50 minutos, coisa pouca, e sonho que estou num campo cor de rosa, com relva de algodão doce, com umas cuequinhas e um top mínimo, estilo anúncio da Sloggi, com um corpo escultural, claro, que isto nos sonhos tudo é possível, a saltitar de um lado para o outro e a comer caramelos gigantes.
O sonho aflige-me. Não sei como interpretá-lo. Não sei se é o meu subconsciente a gozar comigo porque caramelos é obviamente uma das coisas que não consigo comer, não sei se o sonho é inocente, se pelo contrário é obsceno, ou se é simplesmente pouco original. De gente a comer caramelos em campos de algodão doce, até os Jeovás já se lembraram.