12 October, 2008

Traumas, etc.

Ontem tive uma noite como já há muito tempo não tinha. Uma daquelas noites em que o estado de quase-sobriedade nos dispara o Q.I e nos faz ter epifanias e descobrir verdades (quase) universais em que nunca tínhamos sequer pensado e que de repente parecem tão óbvias.
Foi uma noite boa, em que não chorei, não passei nenhum limite perigoso e pode-se dizer que me consegui aguentar à bronca, que desta vez não foi da minha parte. Ver os outros pior do que nós, quando não é o habitual, pode revelar-se esclarecedor em muitos sentidos.
Como é que nunca reparei nos pequenos grandes traumas dos que me rodeiam, na facilidade com que os pontos mal cozidos das cicatrizes se abrem depois de dois copos de vinho, na dor gritante que os outros (também) sentem? Eu já sabia que todos temos os nossos traumas, mas sabia-o de um modo tipo cultura geral, nunca lhe tinha dado muito valor por pensar que era eu a única com assuntos mal resolvidos e feridas abertas tempo demais. Por talvez pensar que o meu trauma era maior que o dos outros, mais estúpido, mais desnecessário e principalmente mais sobrevalorizado. Ontem vi a verdade. Consegui ver, num grupo de amigos e desconhecidos, as pequenas feridas e os pequenos medos que aumentam proporcionalmente à quantidade de bebida ingerida. Consegui ouvir as notas de dor nas vozes embargadas de cada vez que o assunto roçava arestas mal limadas. Fiquei-me a sentir mais saudável, talvez até mais saudável que eles, mas não sei se me senti realmente melhor. Se somos todos uns traumatizados, onde irei eu encontrar alguém com a coragem, a força e a paciência para me curar do meu próprio trauma?
Não vou. Não vou encontrar ninguém assim porque eu era a última. 3 anos atrás eu era a última pessoa capaz de dar tudo por tudo para matar o trauma de alguém, sabendo (e pressentindo) que poderia cair eu a seguir dentro do buraco. Já ninguém pensa assim. Já ninguém se joga de telhados por ninguém. E fazem eles bem. Porque se jogariam? Porque se anulariam de tal forma por alguém que é só mais um alguém? Já ninguém arrisca com um par de dois. Como posso eu julgar os outros por não lutarem por ninguém, por não saírem da sua área de conforto e por não se atirarem de cabeça, se eu própria fiz tudo isso e caí a pior queda possível? Se por um lado me faz sentir mais "normal" saber que todos somos traumatizados, ao mesmo tempo é assustador ver que na casa dos 20, já não há nada senão desistentes.
Se conseguíssemos ler mentes e ter a certeza de que algo vale a pena, seria tudo diferente. A ausência de certezas não deixa de ter a sua piada, mas torna tudo confuso, e à pala de uns quantos mentirosos temos todos medo de saltar.
Começo a detestar os filmes de Hollywood e as intemporais histórias de amor. Parece que já não há borboletas nem grandes feitos, e detesto a ideia de escolher o "confortável e seguro" ao "intenso e arrebatador".

05 October, 2008

Benvindos.

A era da inocência... Já era. Benvindos à era moderna, em que nada fica e em que nada marca. Benvindos à era em que é tudo fácil, e porco, e sem significado. E enquanto idiotas como eu se roem por terem ido contra os seus princípios, o Mundo ri por ainda haver quem tenha príncipios. E como levantou e muito bem o anónimo no seu comentário, como havemos nós de ser optimistas se p'ensarmos o que pensarmos, fizermos o que fizermos, o pior que pode acontecer acontece sempre??? Estou farta.

Apetece-me ouvir Ornatos. Não sei por que merda passou o Manuel Cruz, mas acho que ele me compreenderia neste momento. Apetece-me mesmo anular-me e ser a merda que esperam que eu seja. Tudo é mais fácil quando não há expectativas.

Estou desanimada e fraca, e tonta demais para acreditar em seja o que for que seja demasiado bom para ser verdae.

22 September, 2008

Optimismo

Ou como nascer outra vez.

Não quero saber que depois caia de boca. Estou farta de negativismos e de maus presságios. Estou farta de desculpar cada desistência prévia com o azar que sempre tive. Sim, tive azar. Muito azar mesmo. Mas não quer dizer que o volte a ter.

1,2,3, vou nascer outra vez!(e desta vez vou nascer optimista)
É mesmo preciso nascer outra vez, desde que me lembro de pensar que tenho uma tendência suicida para o pessimismo, e na "era da depressão" é mesmo igual a premir o gatilho...

19 September, 2008

"Fé é acreditar na ausência de provas"

Reencontrei a minha. A Fé. Não por ausência de provas, antes fosse. Tenho fé em Deus (ainda me soa tão estranho dizer isto, ao fim de 10 anos a negá-lO com todas as forças), mas principalmente tenho fé em mim. Sabia que tinha perdido a fé em Deus. Mas não me tinha apercebido que também tinha perdido a fé em mim.
É engraçado de uma forma sádica, vendo bem. Como podemos chorar e amaldiçoar os Céus por ninguém nos ver, quando no fundo e sem sequer nos apercebermos achamos que não merecemos ser vistos. Hoje sei que sou especial (perdoem-me o chavão), não por ser mais bonita, mais inteligente, mais forte, mais alguma coisa que os outros, mas porque sou eu. Porque sou especial à minha maneira, porque a minha existência tem um propósito, e porque não perdi a minha sparkle.
E isto sim, isto é importante. Chega de revolta, não há tempo para isso, e se há razões, só as do passado. E o passado já não existe.

Gosto de mim. Permiti-me isso, finalmente.
Mas por muito que acredite em mim e em Deus, há coisas que não merecem crédito. Não duvido que a história se repita (ou tente repetir), sinto no meu âmago que não há finais definitivos enquanto o coração bate e estou farta de tentar ignorar a força do sexto sentido.
Sim, sinto-o. Sim, sei-o.
Mas já não o quero.
Uma coisa é acreditar em Deus, outra é esperar milagres.

O destino tem prazo de validade.

07 July, 2008

Tenho de fazer um update do meu estado. Porque é importante. Ao menos para mim...

Não sei se os céus ouviram as minhas preces ou se vem aí mais um soco no estômago.

Curei-me. Retiro tudo o que alguma vez disse (com plena consciência de que um dia sou capaz de voltar a repeti-lo) sobre não sentir. Talvez quando aquela dor fina e irritante como uma enxaqueca nos assalta a numbness pareça a melhor opção, mas a minha durou demasiado tempo e fez-me perceber que a coisa mais assustadora é mesmo não sentir. É quase como não ser. Não tinha muito a distinguir-me de um robot altamente sofisticado, e não gostei da sensação.

E pronto, assim como adormeci, acordei. Não vou voltar a ser o que era. Não tão cedo, pelo menos. A primeira vez nunca se esquece, dizem eles. E têm razão. Isto é válido para todas as primeiras vezes, e certamente também para o primeiro trauma (daqueles lixados, claro).

Últimas palavras ao defunto:
Rest in peace (um ano de luto foi uma vergonha. Não merecias uma recuperação tão lenta)

[Só um pequeno aparte, em tom de piada. O próximo jantar romântico que tiver vai ser no Indiano. Com muito, muito, mas muito caril]

04 June, 2008

Conspurcação da pureza acto 1º

As pessoas são chatas. Estou meio a dormir e não sonho com nada, este estado aborrece.

Tive um pesadelo a noite passada, e os pesadelos têm a clarividência que lhes quisermos atribuir. Eu acho que os pesadelos mostram o futuro. O meu pesadelo mostrou um futuro nojento. Não era necessariamente mau, aquilo. Não tinha nada a ver com sofrimento. Era nojento, apenas isso.



No meu pesadelo havia pessoas chatas. E muito branco. Não gosto de branco. Eu estava cheia de branco e tentava desesperadamente livrar-me dele. Não, não era vestida de branco. Não sou fã de casamentos, mas neste sonho, antes fosse. Era coberta de branco, de um branco fúngico nojento que não deixa dúvidas sobre a sua simbologia. Havia carradas de gente chata no meu quarto e toda a gente estava coberta de branco. O branco não é a cor da pureza. Já não. É sujo. Sufocante de alguma forma. Como quando as noivas se vestem de branco e têm reacções alérgicas pela culpa de já não serem virgens. Não sei que digo. Tive um sonho mau e não consigo exorcizá-lo da minha cabeça.



Vamos a ver, pela ciência os sonhos são manifestações do subconsciente. Mas onde vai a nossa cabeça buscar semelhantes coisas? Como somos capazes de produzir histórias tão coerentes (e absurdas ao mesmo tempo), imagens tão macabras, situações tão desesperantes? E se os místicos e esotéricos estiverem certos (afinal, porque nos convencemos que a ciência tem sempre razão?), e se isto for um exagero macabro do futuro que me espera?

Eu não escolhi este futuro. Não escolhi ser esmagada por uma imensidão de branco, não quero fugir aos gritos do meu próprio quarto, apenas para encontrar um beco sem saída com paredes de 10m.



Tenho um poder assustador para esconder a minha impotência.



(será que isto significa que devia parar com as bebidas brancas? Senhora cartomante, eu sei que estava ébria, mas diga-me lá outra vez o que me disse, que eu acho que troquei tudo. só me lembro de me dizer que a minha aura era roxa, e isso não é bom)

O que me diz de feitiços e de escolhas? E de escolhas forçadas por feitiços? Deixe-se de me dar desculpas. Escolhas são escolhas. Os feitiços só nos afectam se formos ou estivermos fracos, sempre ouvi dizer... Ah... Está explicado, vendo bem. Acabo sempre por reafirmar a certeza da fraqueza (não, não é da minha) e não sei porque ainda me surpreende. Não são feitiços, minha senhora. É burrice pura e masoquismo gritante.

Mal por mal, antes o branco nojento do sonho repulsivo. E de todos os sinónimos que possa encontrar.

29 May, 2008

Diz-me que o tempo não existe.
Diz-me que as memórias foram alucinações provocadas por um coma auto-induzido.
Diz-me que não chorei, não desisti nem me matei.
Diz-me que o presente nunca vai acabar e que viveremos para sempre num imperfeitamente perfeito estado de felicidade suprema.
Diz-me que o Mundo vai esperar por nós.
Diz-me que as trevas ainda não cobriram o brilho dos meus olhos.
Diz-me que esta não foi a nossa última dança.
Diz-me que os nossos corpos desapareceram e as nossas almas puderam finalmente encontrar-se uma à outra.
Por favor, diz-me que o tempo é uma ilusão.
Diz-me...

28 May, 2008

Passamos o tempo à procura de uma prova irrefutável da existência de algo que nunca se decide a mostrar-se e, a existir, nos tortura pelo que pode muito bem não ser nenhuma razão profunda superior à nossa compreensão, mas sim o simples prazer de gozar com a nossa cara.

Num desses dias de investigação exaustiva (tu dizias que as drogas nos levavam, literalmente, para mundos paralelos, onde existia a Verdade pura - às vezes tenho medo que seja mesmo verdade) encontrámos. Ele. Ela. Aquilo. A coisa. Deixámos cair os tabuleiros em cima dos joelhos com o choque, e Ele/Ela/Aquilo/A coisa desapareceu. Só a vimos durante breves segundos mas tenho a certeza que era. Alucinações colectivas são demasiado surreais para serem verdadeiras, e coincidências deste calibre não podem acontecer duas vezes num mês, se é que me entendes.
De qualquer forma, sei que ambos tivemos tempo de fazer uma pergunta. Mentalmente. Nem foi propositado. Simplesmente a visão levou-nos automaticamente a pensar naquilo que queríamso perguntar e aquilo gritou tão alto dentro das nossas cabeças que não o podemos conter.
Fizeste um esgar estranho, depois abriste o rosto num sorriso que põe a miúda do Exorcista a um canto. Sei perfeitamente qual foi a tua pergunta. Sei também qual a resposta.
A minha pergunta ficou mal respondida, seria de esperar melhor de uma entidade superior, ou lá que era aquilo. Não temos certezas que não pudesse ter sido um alien ou coisa assim. Sei que não devíamos tomar drogas, não pelo mal que fazem ao corpo mas porque nos levam de encontro à Verdade, e eu não sou forte o suficiente para a Verdade.
Se algo está destinado a acontecer, porque é tão fácil foder o destino?
Morrem cedo aqueles que os deuses amam. (os que os deuses não amam também morrem cedo... mas é por dentro)

08 May, 2008

Não faço ideia de onde estaremos ou do que seremos quando o momento chegar. Há sempre a hipótese de nos perdermos no caminho, ou de darmos por nós a espreitar pelos estores para a vida que não escolhemos. Se tudo correr como é suposto (mas afinal de contas, onde está a piada nisso?) estaremos ambos no fim do arco-irís, jogando as moedas douradas ao ar e cantando, algemas e anilhas no caixote do lixo, num abraço interminável de saudade.
Fazes-me falta. Mais do que alguma vez me fizeste, talvez ainda não tanta como a que te fiz... Aposto que quando o momento chegar estaremos quites. De ti só me restam as palavras de sangue nos esboços atirados a medo, as fotografias na gaveta de baixo e os olhares secretos e fugidios dos estados de sinceridade excessiva, onde a boca seca e o olhar diz tudo, sem dizer nada...
Duvido de mim, não tenho coragem ou maldade para te arrancar as entranhas novamente, duvido de ti, não sei se o sal ainda corre no teu sangue, e sei que o sal era tudo o que restava de mim em ti. Tenho medo, tenho sempre medo, sou cobarde e nunca to disse. Quero voltar para aquele lugar, aquele lugar que éramos nós, mas deitei fora a minha chave sem sequer ver onde caiu e agora o Sol não brilha como dantes, e eu puxo os lençóis até cima todas as noites, e finjo que sinto o teu abraço. Sei que este caminho está esburacado, mas sei também que precisei de o percorrer para entender finalmente a magia dos caminhos calcetados que percorríamos. O teu caminho também se tornou esburacado, e eu não sei se é um caminho novo, ou se é o nosso. Se for o nosso, está com demasiados buracos para o podermos arranjar de novo.
Corre, foge enquanto é tempo. Espera comigo pelo momento, que talvez só exista na minha loucura, mas que é tudo o que me resta de mim. Quando ele chegar tudo terá valido a pena. E se não chegar, então foi melhor assim.
"É tarde demais" e "adeus". Duas expressões que odeio. Mas são as primeiras a invadir-me a memória quando penso em ti.
Adeus.
A minha fantasia de felicidade absoluta é demasiado infantil para ser praticável. Ou talvez nós sejamos demasiado cínicos para a por em prática. Ainda assim, quando vôo para aquele fragmento do ontem, onde cheira a baunilha e a terra molhada, e onde ainda nos olhamos nos olhos, não há impossíveis que não desafiem a sua natureza.

24 April, 2008

shortcomings

É domingo. Domingo à tarde.
Chove lá fora e na janela da tua webcam. Pareces amarelado, mas não deves estar doente. Estas coisas electrónicas ainda não são de fiar. Com a voz entrecortada por ruídos metálicos vais-me contando as últimas novidades. A Dª Georgina sobreviveu ao 3º ataque cardíaco, o último casal de solteiros da aldeia casou-se finalmente. Agora só restas tu. Ficaste aí tempo demais, feito parvo, e agora os veteranos não te deixam ir embora como os outros todos. Ai de ti se desertares também, faz-te mas é homem e arranja uma mulher roliça que te dê muitos varões fortes, senão a aldeia é mais uma condenada à extinção. E isso não pode ser.
Peço para mandares um beijinho à Dª Georgina, e as melhoras, parece-me ver-te franzir o sobrolho num ângulo esquisito. Deve ser da webcam. Dizes que não gostas da Dª Georgina porque ela está sempre a rir histericamente. As pessoas que riem histericamente ou é porque são felizes ou porque querem fingir que são. As pessoas que são felizes são irritantes. As pessoas que querem fingir que são felizes são estúpidas.
A Dª Georgina é estúpida porque não é feliz. O marido deixou-a por uma matrafona de uma aldeia vizinha dois meses depois de os únicos filhos terem morrido num terrível acidente de motorizada. Tontos de bagaço contra um chaparro. Dizem que não se distinguiam da árvore quando os bombeiros lá chegaram. E dizem que toda a aldeia se riu no funeral.
Tu dizes-me que eu é que bem podia ir para lá e revolucionar aquilo tudo. Tínhamos era de nos casar, senão davam cabo de ti, mas preferias casar-te comigo do que com a Martinha da aldeia vizinha, que tem bigode e bate nos rapazes. Rio-me da proposta. Seria muito mais simples viver aí, já começo a ficar saturada da feira de vaidades e das falsas aparências da metrópole. E casar contigo não seria mau de todo, suponho. Mas tenho de recusar. Nunca iria dar certo e na aldeia os divórcios não são vistos com bons olhos. Acho que te ias entender melhor com a Martinha.
Eu rio-me histericamente quando estou triste.

11 April, 2008

Hoje o homem da lua chorou. O homem da Terra reprimiu mais uma lágrima.

A mim não me apetece chorar. Talvez me apeteça chorar por não me apetecer chorar, mas não o suficiente para de facto o fazer. Não tenho metáforas para descrever a sensação de liberdade que me deu dizer-te adeus. Tinha medo que doesse demais. E doeu um bocadinho, mas é aquela dor de quando damos ao nosso sobrinho o nosso brinquedo preferido de criança. Nunca deixamos de estar apegados a ele, mas só quando temos a maturidade de guardar apenas as boas recordações que ele nos traz e perceber que somos velhos demais para brincar com ele é que o conseguimos largar.

Não sei porque te comparei a um brinquedo. Estou a escrever em catadupa, porque estes sentimentos nunca ficam o tempo suficiente para os poder tentar transcrever mais tarde. A 1ª comparação que me ocorreu foi esta. Talvez por teres sido também uma parte da minha fase de transição. Algo que me acompanhou no meu crescimento, que também me ajudou a crescer. Que seria de mim se não tivesses existido? Seria ainda irracional demais. Sonhadora demais. Ingénua demais. Não estou a dizer que tenha perdido todas essas qualidades, ou defeitos, se lhes quiseres chamar assim. Apenas lhes retirei o excesso. Ensinaste-me que os contos de fadas existem. O "felizes para sempre" é que nem sempre.

Hoje consigo olhar para tudo isto sem amargura. Sem raiva. Com alguma pena, é certo (éramos tão melhores do que isto...), mas sem querer bater-te(vos). E principalmente, sem querer ter-te de novo. É tarde demais. Já o tinha percebido. Mas antes sabia que o era apenas da tua parte. Não porque fosse, de facto. Apenas o era porque exigia mais força e mais loucura do que as que tu conseguias ter. Tinha de haver uma revolução. E, como dizias, querias assistir à revolução, não ser parte dela. Sempre foste assim.
Desta vez é tarde demais. Mas porque eu quero. Porque consigo. Porque não sou, de facto, tão especial como queria ser. Sou mais especial que ela (mas também, todas nós somos. Ela é nada). Mas não é que eu não valha a pena. Nós é que não valemos.

08 April, 2008

all-in my heart

Como é possível levarmos uma vida a construir uma teoria que é derrubada no preciso instante em que chegamos à conclusão de que é perfeita, lógica e com uma margem de erro mínima?

Não tenho muito a dizer sobre este assunto, porque para falar dele tenho de pensar, e pensar implica recordar. E recordar implica tornar de alguma forma mais real. Remoê-lo, dissecá-lo, analisá-lo até à loucura para não chegar a conclusão nenhuma. Eu já tinha recordado o suficiente tudo o que havia para recordar, e agora insistes em jogar a última cartada. Já não me apetece jogar a isto. Quando eu aprendo finalmente a jogar este teu jogo, as regras mudam. Não sou um jogador, sou o peão do jogo.

Neste jogo as acções contam mais do que as palavras, as palavras contrariam as acções. Raramente estão em sintonia, e fico na dúvida sobre qual valorizar mais. Os teus gestos matam-me, as tuas palavras torturam-me. Não consigo adivinhar se tens ou não bom jogo. Dizes que sim. Sorrio presunçosamente a olhar para as minhas cartas. Pode ser que caias. Resulta. Franzes o sobrolho às cartas e desistes. Sais da mesa e levas o dinheiro que te resta. No fim, quando viramos as cartas, gritas "merda! era meu!" e dás um soco na mesa. Eu tinha-te avisado que jogo duplo não funciona com ninguém a não ser comigo. Mas parece que começas a aprender. Já sabes fazer bluff, só é pena que em vez de seguires o instinto, jogues sempre pelo seguro.
- Arrisca!- incito eu.
- Não posso - choras.
- Não podes ou não queres?
- Não posso. Não posso mesmo.
Não querer é vontade própria. Não poder é fraqueza. E a tua fraqueza controla-te, aprisiona-te, faz-te mal. Sempre foi assim. A tua fraqueza é feia para mim. Para ti é irresistível. A tua fraqueza tem forma de mulher.

Mal sabe ela que está a perder terreno. Mas ela que não se preocupe. Sempre gostaste mais dela.

Fazes sempre fold.
Eu sou mais all-in.

Pesadelo Cor-de-Rosa

Hoje tive um sonho estranho. Estávamos num sítio lindo, estupidamente lindo, como aquelas quintas onde se fazem casamentos e onde é tudo verde e florido, e com caminhos de pedrinhas às cores, e bancos brancos para nos esticarmos ao sol. Era um sítio tão bonito que chegava a parecer artificial. Pensando bem, acho que estávamos mesmo num casamento. Havia um salão com tectos de vidro, um buffet enorme ao centro, e as pessoas dançavam e riam em fato de gala.

Lá estávamos, os quatro. Os melhores amigos do Mundo. O número perfeito. Todos reunidos naquela amostra de paraíso, a rir alto e a torrar ao sol. Já não gosto de triângulos. Não são confusos o suficiente. Agora prefiro quadrados.


Hora do jantar/ copo de água: sentaram-nos na mesa das crianças, e no fim mandaram-nos jogar ao jogo das cadeiras. Eu não quis, éramos um quadrado unido e entre nós não devia haver competições nem divisões. O jogo das cadeiras é o equivalente infantil da luta pela sobrevivência e do individualismo. Sempre gostei mais de jogos de equipa. Mas os senhores da festa (casamento?) não nos deram hipóteses. A sociedade não gosta de quadrados e a gente madura não os tolera. Os adultos não têm quadrados. Triângulos, talvez. Quadrados não.

O jogo chegou à parte final. Desfez-se o quadrado e apenas restámos dois. Vencemos. Os adultos pôem a música novamente a tocar e mantém as duas cadeiras. Quando a música parar, vamos sentar-nos e seremos só nós. A ideia não me parece má. Respiro fundo, de olhos fechados, e sorrio. A música pára. Dou um passo em direcção à cadeira e caio. Vejo pernas a passar por cima de mim, vejo alguém a sentar-se na minha cadeira. Empurrou-me à má fé e sentou-se. E passou, literalmente, por cima.

Riem-se os dois, tu e ela. Abdicaste facilmente do nosso quadrado. Mas e daí, eu também. Nós ganhámos por alguma razão. Mas também não ligaste ao nosso círculo. Percebo-te. Afinal, isto é apenas um jogo. Que ganhe a melhor, é o que dizem. Fujo pelo salão, vou atrás dos outros perdedores, talvez possamos formar um triângulo outra vez. Já desapareceram. Foram para a mesa dos adultos, tal como tu e a intrusa.

Volto a sentar-me na mesa das crianças. Esta festa perdeu o interesse. Já não tenho com quem brincar.

[O que pensa disto, sr. Freud? Fossem todos os sonhos tão fáceis...]

16 March, 2008

Ouvi dizer que morreste.

Ouvi dizer que a morte te bateu à porta e que a abriste, sorridente. Pronto para a viagem que te propunham. Não tentaste resistir. Não tinhas nada que te prendesse cá.

A vida ensinou-me que é normal as pessoas desistirem de algo que estão quase a conseguir. É mesmo assim. Faz-me confusão, mas aceito. É mesmo assim. É a lei da vida, seja lá o que isso for.

Não há cá destinos. O destino foi inventado para justificarmos as coisas que nos acontecem contra nossa vontade. Ou a favor dela. É sempre tranquilizante metermos as culpas em algo que não seja em nós próprios. O destino é o melhor escape possível. Pensava que eras o meu. Pensava eu, e pensavam as noites de Outono, e os estranhos no comboio, e os fantasmas do passado. Não és. Escolheste não ser. O meu destino é negro. O teu é dourado. Mas e daí? O destino é uma noção falsa. Não existe semelhante coisa. Se existisse, não terias mudado o meu.

12 March, 2008

SuperMassive Black Hole

Parece que entrei para o ecrâ. O filme é o "The Shinning" e tu és o Jack Nicholson, a perseguir-me com um machado, com cara de louco demente. Só que em vez de fugir de ti corro na tua direcção, de braços abertos, sorriso estúpido, correndo aos saltinhos como as crianças pequenas. Vais-me estraçalhar aos bocados. Não consegues mais esconder a tua loucura e é claro como água que me vais estraçalhar. Olhas-me com ar possuído, dizes algo ridículo como "come to daddy..." e abanas o machado ameaçadoramente...

E eu continuo toda contente na tua direcção. Faz-me feliz a tua ânsia de destruição. Pelo menos tens motivação para algo, o que já é mais do que o costume. É ridículo com isto me basta, mas está a tornar-se claro que não vai haver mais que isto.

07 March, 2008


- Tem cuidado, isso é um poço.
- Eu sei.
- É fundo.
- Eu sei.
- Se te atirares de cabeça morres.
- Eu sei.
- Então o que é que vais fazer?
- Vou-me atirar, claro!

Estupidificação propositada, parte II
As pessoas não mudam. O meu cérebro sabe-o, o meu coração também sabe mas recusa-se a admitir.

Vou espetar a culpa nos filmes de Hollywood e dormir um bocado.
Quando acordar já foste. Já foram todos.

01 March, 2008

Love Me Nots

Please stop. Just stop it. You don't have the right to do this. You think you're making it better. You're not. I just wanna keep living in my fantasy world and right now you're destroying it. You have no place in my fantasy world. You never existed there. There, everything is perfect. You're not perfect. I am. I am so perfect that I'll never be loved. You fall in love with people's flaws. I don't have any. So shut it.

There's nothing you can say that can make the fact that you were never able to love me go away or feel less painful.
Well, except... Except doing the one thing I know you won't do. Because you can't. You never mean what you say. I don't know how you're capable of doing something like that. I say I can't lie about feelings and you say the same, but you're just lying about not lying. So even if you do that one thing, it's still pointless.

I'm not one to let things die, but this one was never alive to start with.

29 February, 2008

Would you settle for the next best thing?

I wouldn't.

Do you get my point?

27 February, 2008

Tu tens medo de palhaços.
Podias ser mais original. Quase toda a gente tem medo de palhaços.
Dizes que eles te lembram daquela vez em que entraste no quarto dos teus pais e viste o teu pai com uma peruca loira e os lábios esborratados de batom. Batom vermelho-vivo. Com o corpete da tua mãe.
O teu pai não te viu a olhar para ele. Nem reparou que o chão estava molhado junto à porta, quando saiu do quarto. Continua a ir à caça, e à pesca, e a arrotar cerveja em tardes de futebol. É o homem da família e nem te passaria pela cabeça fazer com que deixasse de ser assim.
Tu dizes-me que tens ainda mais medo de mim do que tens medo de palhaços, e que não queres mais chorar debaixo de umbrais de portas. Não te percebo. Não fazes sentido nenhum. Já deixei de usar batom vermelho, pensei que talvez te trouxesse más recordações, mas continuas a tremer de cada vez que olhas para mim. Não sei que mais faça.
Ficamos sentados no mesmo banco,tu o mais longe possível de mim, na outra ponta, com metade do rabo de fora, a soluçar. Eu a olhar para ti por cima dos óculos de sobrolho levantado. Não sei o que pensam as pessoas que passam por nós. Não podem adivinhar que tens medo de palhaços, mas percebem que tens medo de mim. Vou deixar de me chatear contigo. Estamos aqui há 3 horas e os pombos já me cagaram em cima vinte vezes.
É hora de ires para casa bater com a cabeça nas paredes. Sabes que vou fazer o mesmo. É por isso que tens medo de mim.

19 February, 2008

Epifania da estupidez

X-"Morreu?"
Y- "Quem, ele? Não... Ele não morreu."
X- "Não. Você. Morreu?"
Y- "Hã? Não... Não, não morri."
X- "Então, de que é que se queixa?"

Estava à espera de acordar com uma conversa mais elaborada, mas isto também serve.