29 May, 2008

Diz-me que o tempo não existe.
Diz-me que as memórias foram alucinações provocadas por um coma auto-induzido.
Diz-me que não chorei, não desisti nem me matei.
Diz-me que o presente nunca vai acabar e que viveremos para sempre num imperfeitamente perfeito estado de felicidade suprema.
Diz-me que o Mundo vai esperar por nós.
Diz-me que as trevas ainda não cobriram o brilho dos meus olhos.
Diz-me que esta não foi a nossa última dança.
Diz-me que os nossos corpos desapareceram e as nossas almas puderam finalmente encontrar-se uma à outra.
Por favor, diz-me que o tempo é uma ilusão.
Diz-me...

28 May, 2008

Passamos o tempo à procura de uma prova irrefutável da existência de algo que nunca se decide a mostrar-se e, a existir, nos tortura pelo que pode muito bem não ser nenhuma razão profunda superior à nossa compreensão, mas sim o simples prazer de gozar com a nossa cara.

Num desses dias de investigação exaustiva (tu dizias que as drogas nos levavam, literalmente, para mundos paralelos, onde existia a Verdade pura - às vezes tenho medo que seja mesmo verdade) encontrámos. Ele. Ela. Aquilo. A coisa. Deixámos cair os tabuleiros em cima dos joelhos com o choque, e Ele/Ela/Aquilo/A coisa desapareceu. Só a vimos durante breves segundos mas tenho a certeza que era. Alucinações colectivas são demasiado surreais para serem verdadeiras, e coincidências deste calibre não podem acontecer duas vezes num mês, se é que me entendes.
De qualquer forma, sei que ambos tivemos tempo de fazer uma pergunta. Mentalmente. Nem foi propositado. Simplesmente a visão levou-nos automaticamente a pensar naquilo que queríamso perguntar e aquilo gritou tão alto dentro das nossas cabeças que não o podemos conter.
Fizeste um esgar estranho, depois abriste o rosto num sorriso que põe a miúda do Exorcista a um canto. Sei perfeitamente qual foi a tua pergunta. Sei também qual a resposta.
A minha pergunta ficou mal respondida, seria de esperar melhor de uma entidade superior, ou lá que era aquilo. Não temos certezas que não pudesse ter sido um alien ou coisa assim. Sei que não devíamos tomar drogas, não pelo mal que fazem ao corpo mas porque nos levam de encontro à Verdade, e eu não sou forte o suficiente para a Verdade.
Se algo está destinado a acontecer, porque é tão fácil foder o destino?
Morrem cedo aqueles que os deuses amam. (os que os deuses não amam também morrem cedo... mas é por dentro)

08 May, 2008

Não faço ideia de onde estaremos ou do que seremos quando o momento chegar. Há sempre a hipótese de nos perdermos no caminho, ou de darmos por nós a espreitar pelos estores para a vida que não escolhemos. Se tudo correr como é suposto (mas afinal de contas, onde está a piada nisso?) estaremos ambos no fim do arco-irís, jogando as moedas douradas ao ar e cantando, algemas e anilhas no caixote do lixo, num abraço interminável de saudade.
Fazes-me falta. Mais do que alguma vez me fizeste, talvez ainda não tanta como a que te fiz... Aposto que quando o momento chegar estaremos quites. De ti só me restam as palavras de sangue nos esboços atirados a medo, as fotografias na gaveta de baixo e os olhares secretos e fugidios dos estados de sinceridade excessiva, onde a boca seca e o olhar diz tudo, sem dizer nada...
Duvido de mim, não tenho coragem ou maldade para te arrancar as entranhas novamente, duvido de ti, não sei se o sal ainda corre no teu sangue, e sei que o sal era tudo o que restava de mim em ti. Tenho medo, tenho sempre medo, sou cobarde e nunca to disse. Quero voltar para aquele lugar, aquele lugar que éramos nós, mas deitei fora a minha chave sem sequer ver onde caiu e agora o Sol não brilha como dantes, e eu puxo os lençóis até cima todas as noites, e finjo que sinto o teu abraço. Sei que este caminho está esburacado, mas sei também que precisei de o percorrer para entender finalmente a magia dos caminhos calcetados que percorríamos. O teu caminho também se tornou esburacado, e eu não sei se é um caminho novo, ou se é o nosso. Se for o nosso, está com demasiados buracos para o podermos arranjar de novo.
Corre, foge enquanto é tempo. Espera comigo pelo momento, que talvez só exista na minha loucura, mas que é tudo o que me resta de mim. Quando ele chegar tudo terá valido a pena. E se não chegar, então foi melhor assim.
"É tarde demais" e "adeus". Duas expressões que odeio. Mas são as primeiras a invadir-me a memória quando penso em ti.
Adeus.
A minha fantasia de felicidade absoluta é demasiado infantil para ser praticável. Ou talvez nós sejamos demasiado cínicos para a por em prática. Ainda assim, quando vôo para aquele fragmento do ontem, onde cheira a baunilha e a terra molhada, e onde ainda nos olhamos nos olhos, não há impossíveis que não desafiem a sua natureza.