26 January, 2015

Estas coisas, para mim, são um bocado como engolir um ácido. Primeiro há uma aceleração brutal, depois uma felicidade desmedida, e depois, quando passa, acabo por ficar meio fraca e triste e não sei bem porquê. É como se num minuto estivesse a ouvir uma música daquelas parvas e felizes, e a cantar a plenos pulmões, e no minuto seguinte lembro-me de quem sou, lembro-me de que não posso, e só penso que está novamente a acontecer, e tenho de acabar com isto, porque para mim não dá. A minha garganta começa a fechar, as mãos começam a suar, o coração dispara, e aquela sensação de morte eminente dá a cara mais uma vez. Não é um ataque de pânico, porque um ataque de pânico aparece do nada (ou tem triggers, mas aparece aparentemente do nada), e só tens de surfar a onda e deixá-lo passar. Não que seja fácil. Certamente não é agradável. Mas é rápido. E isto digo eu com base no que ouço os outros descrever, que eu já tive mini ataques de pânico, ou começos de ataques de pânico, mas nunca tive um como se quer. De qualquer forma, isto é como uma tortura lenta e irritante, em que o pior de tudo nem é a dor que te infligem, é a ameaça da dor que te vão inflingir. É a tua imaginação. Eu sei que só acaba quando fizer o que de mim é esperado: acabar com tudo no primeiro ato, antes que a garganta feche de vez e o ar me fuja dos pulmões.

É engraçado que numa qualquer dimensão absurda, o G me tenha feito o tipo de declaração que qualquer outra alma acharia maravilhosa, e eu acho uma vergonha. Como se atreve a humilhar-me numa sala cheia de gente, que olha sarcasticamente, cheia de ácido e veneno, para a miúda que ele trata por mulher, a quem chama "a mais bonita que já teve a sorte de conhecer"?.  Consigo ouvir os "pffffs" ecoarem pela sala. Isto é tudo demais, e parte de mim acha que isto seria demais mesmo que o meu limiar de "demais" não fosse tão baixo. Estes grand gestures não são para mim, e eu ao menos tentei ser sincera com o G, mas acho que ele não percebeu a real dimensão do meu problema, ou do meu cinismo. É assim, G: gosto que me trates de igual para igual, gosto que me assumas mulher ao invés da miúda perdida que outros viram antes de ti. Mas também acho que me leste erradamente, acho que nos perdemos na tradução e que pensas que isto é só uma chaticezinha em vez do problemaço que é. E eu disse-te que tu és um gajo sério e com idade para ter juízo, e eu, fodida como sou, não quero apesar disso fazer-te a ti nem a ninguém perder anos preciosos, para daqui a 3 anos me gritares que andei a gozar contigo e a fazer-te perder tempo. I'm not there yet, ok? Talvez um dia esteja. Talvez não. Mas tu estás. Tu estás na onda da esposa, e dos filhos, e dessas coisas todas, e até não me parece que seja só porque sim, até não me parece que se fosse eu seria outra qualquer... Até me parece que querias mesmo que fosse comigo. Mas eu não posso. Não posso, não quero e não consigo. É o pior cenário para alguém como eu. Baby steps, e passos de caranguejo também. Um para a frente, dois para trás. Não penses que isto não me começa já a fartar. Mas ainda não consigo. Perdoa-me. Ao menos fui sincera, e não te fiz perder tempo. A menos que queiras mesmo.

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Por outro lado. esta história do G fez-me perceber: O G é exatamente o que o Outro queria e nunca conseguiu: dinheiro, cultura, conversa, estilo para caraças, O G também poderia ter ficado preso num qualquer moinho de areias movediças. O G também poderia neste momento estar a contemplar a sua vida e a quase deixar cair uma lágrima, por não ser aquela a paragem onde devia ter saído, mas o G nunca perderia a postura, o cavalheirismo ou a bondade em ressabiamentos e subterfúgios. O G é quase perfeito, e eu sou uma parva que talvez um dia consiga realmente ver isso, mas se o G não serve para mim, o Outro então nem a milhas, e a única coisa que me ofende nesta história é que ele tenha a audácia de pensar que sim.