28 September, 2017

Make it Stop

He has nothing to do with you.

It's just my mind playing tricks on me. He's so different, a polar opposite. What little I know about him, anyways. It was just unfortunate that he was wearing his hair like that in that photo, and that unfortunate shirt with those unfortunate colours. It was an unfortunate accident. An unfortunate coincidence. Nothing more. Just unfortunate.

It was just once. Just one photograph. It doesn't mean I'm seeing you in him, meshing you together because you're still here, in me. It doesn't mean I chose him because he looks like you. He does not look like you. He looks like himself.

He has nothing to do with you. This can't have anything to do with you.

14 September, 2017

Kindness of a stranger

Acho que tal como há pessoas a usar óculos com lentes cor-de-rosa, há outros de nós cujas lentes vão progressivamente escurecendo, a ponto de já não nos permitirem ver nada que não seja escandalosamente brilhante. E como as coisas de maior contraste, essas coisas escandalosamente brilhantes, são ou muito boas ou horrivelmente más, as que mais se destacam no cinzento dos dias, é só isso que nos entra pelos olhos.

O principal problema é que as coisas horrivelmente más são muito mais do que as coisas muito boas, ou pelo menos assim nos parece, talvez por nos passarmos a focar cada vez mais nelas, como as falhas no pavimento que eu tentava evitar por pura superstição, e ainda hoje tento, de vez em quando. Quanto mais coisas más já vimos, mais parecemos ver, e mais frequentes se tornam. Não é só o telejornal, e a fome, e o racismo, e o terrorismo, e os desastres naturais. São as insignificâncias do dia-a-dia: o homem que não nos cede a vez na fila do supermercado quando só temos na mão uma lata de atum, a besta quadrada que vai exatamente no meio da estrada, entre as duas faixas, a criatura sem consideração que paga 20 contas no multibanco, e leva o seu doce tempo, sem se importar minimamente com a fila de gente a bufar que aumenta atrás de si. É o cinismo, o "me, me, me!", a falta de humanidade e de civismo crescentes. Principalmente se não nos ensinaram o "me, me, me", e se de alguma forma nos ensinaram, ainda que sem querer, que nós não só não estamos em primeiro, estamos em último, e nós queremos mudar a ordem, queremos fazer uma ultrapassagem, mas temos medo de já sermos demasiado velhos, demasiado formatados, para saber como.

São coisinhas, pequenas chatices do dia-a-dia, mas quando não são intercortadas por nada de bom, dias e dias a fio, e quando a cada ano que passa a vida nos encurta um pouco mais o fusível, começamos a assustar-nos porque a dinamite já não está a uma distància segura, e quando cerramos os pulsos com os gritos das crianças, a ideia de voltar a ver a cores parece cada vez mais distante, e a explosão irreversível da nossa sanidade começa a parecer um dado adquirido.

Nos filmes, o protagonista passa geralmente por uma série de tribulações, mas depois há um momento-chave, em que se lhe abrem os olhos para a beleza do mundo novamente, seja através de que veículo for. Tal deveria acontecer também com as pessoas, é este o problema de pessoas como nós, o de achar que "deve" haver justiça no mundo. Não deve, não "tem de", e por vezes o protagonista sofre horrores, e de repente "pum", morre. Não recebe nunca a felicidade merecida. Merecida porquê? Porque sofreu? Quem sou eu, quem somos nós, para exigir esse tipo de retribuição? Mais, quanto mais nos revoltamos com o nosso sofrimento, parece que mais longe ficamos de sair dele, porque os deuses gostam de assistir à tragicomédia.

Eu não sou o tipo de pessoa que está a ter um dia mau e de repente surge algo que me faz acreditar na bondade humana e torna as lentes dos meus óculos mais claras. Eu sou o tipo de pessoa que secretamente espera que isso aconteça (não sou assim tão pessimista como me creêm, e essa é talvez a razão de ainda não ter desistido, quando teria todas as razões para o fazer), mas depois o dia vai de mal a pior, as pessoas vão de irritantes a autênticas bestas, e não surge nenhum anjo disfarçado para me dar uma mão ou um abraço.

Por isso é que o dia de hoje precisa de ficar guardado, nem que seja só aqui, só para mim. Porque hoje senti finalmente aquilo a que chamam "kindness of a stranger" (não foi a primeira vez, mas a última foi há tanto tempo que quase duvido que tenha de facto existido). Hoje, no momento em que mais precisava, no momento em que estava prestes a quebrar, no último segundo antes da detonação, estes dois "strangers" foram para comigo mais amigos do que qualquer um a quem chamo amigo o tem sido nestes últimos tempos (é, de facto, uma seca, estar perto de alguém que nunca está feliz, eu entendo... não dói menos por isso). Não o torna menos importante o facto de ter precisado da validação de estranhos, não lhe tira o significado por isso, mas numa pequena conversa, revitalizaram uma parte de mim que tinha entrado em coma, fizeram-me perceber algo que quero (mas não quero), para o meu futuro, e fizeram-me sentir... querida. Em vez de invisível ou merecedora de todo e qualquer ataque, porque é assim que tem de ser. Estou-lhes eternamente grata, mesmo que daqui a um ano a minha memória doente já não tenha espaço para eles, e espero que algo de bom lhes aconteça pelo bem que me fizeram hoje. Sou supersticiosa (e já aprendi a não falar antes de ter certezas, as possíveis), por isso não vou sequer atrever-me a pensar nisso até que possa ser materializável. Mas mantenho naquela gaveta aquele cartão. Talvez nunca ligue para aquele número. Talvez ligue e ninguém atenda. Talvez atendam e nada aconteça. Mas talvez, um talvez quase inaudível... Talvez.

05 September, 2017

Random

Eles dizem que a melhor forma de acabar com o writer's block é escrever. Escrever. Escrever, escrever, escrever. Mesmo um monte de merda é melhor do que não escrever nada (será?). Sabes, isto é chato porque não há de facto muita coisa que eu queira fazer antes de morrer. Aliás, há, claro que há, mas só uma delas tem o potencial de me transformar numa alma penada arrependida, mantendo-me presa neste patamar, mas não totalmente, movendo objectos e assustando os não-mortos.

Eu Quero escrever um livro. "Escrever um livro e plantar uma árvore", gozava uma amiga. A culpa não é minha. Não fui eu que resolvi publicar livros de pseudo-celebridades com a ligeireza de quem pede um café. Mas é verdade: hoje toda a gente escreve um livro. Toda a gente que não interessa e que nada tem a dizer. Provavelmente até através de um escritor fantasma, que fica com uns cobres mas não com o crédito, mas nem o quereria, se tivesse alguma dignidade.
Falando em fantasmas, se o meu livro alguma vez se materializar, pode nem ser editado. Posso tentar tudo, e ninguém o querer. Independentemente de induzir o vómito ou ser uma pequena obra-prima. Mas tem de SER. Tem de existir. Há muitas coisas que julguei serem a minha missão neste mundo que não passaram de desvios, de distrações. Só uma permanece.

Mas como? Não quero contos, sem nenhuma razão que o justifique para além de me querer torturar à procura de um princípio, de um meio e de um fim que se interliguem de uma forma que não me envergonhe e que cheguem para 300 páginas, give or take. Ideias já tive muitas. Algumas fantásticas, mas todas essas foram a 30 segundos do sono e a preguiça e a falta de forças (ainda não somos livres de usar a palavra "depressão" sem julgamentos - inclusive nossos?') não me deixaram registá-las. Também uma forma de auto-sabotagem diferente daquela a que estou habituada, sem dúvida. Quero uma algo que seja eu, mas que fuja de mim, que fuja dos meus vícios e dos meus temas já exaustos.


Eu sei que tenho andado convenientemente a enganar-me, dizendo-me e a quem se quiser interessar (ninguém) que quero algo como deve ser, que não tenho maturidade para escrever nada que possa ser levado a sério. E é de certa forma verdade. Li mais do que a média, sim, mas a média não lê nada. Li praí 5 clássicos (dos mais fininhos) e muita merda de que não gostei, por isso se calhar não é merda, os meus gostos é que são. ou, como sempre temi, sou demasiado burra para ver os significados belos e subtis que insistem comigo que existem, quando eu só vejo disparate e pretensão. Falta-me muita estaleca para escrever como quero (originalmente tinha escrito "ser quem quero", interessante), porque ter jeito com as palavras não chega, tudo isto tem uma parte muito calculista, e eu não entendo de calculista nem de racional.
Ainda assim, sei que preciso de algo com que alguém como eu se possa identificar. Não será emo, morria se fosse, mas tem de imitar a vida real no sentido em que tem de deixar claro que as únicas pessoas que acreditam que não há sorte nem azar, ou que nós fazemos a nossa própria sorte - são pessoas que a têm. Quem tem azar sabe - porque não há como não saber. Não é pensamento negativo. Eu não pensava negativamente com 10 anos. Nós sabemos - não importa o quanto isso incomode o racional - que certas coisas não são para nós. E fingir que não soa a falso porque o é. Preciso de personagens que soem a reais, não traumatizadas para shock value, mas reais, com os seus demónios e virtudes. E preciso de construir um mundo em que a empatia não exista e quem a tem seja perseguido como no holocausto. E além deste material para 10 páginas, só um vazio. Talvez se eu continuar a debitar inutilidades os meus dedos ganhem vida própria ou façam um "channeling" (teoria marada que ouvi -  o Pessoa era de facto um canal para aliens e os seus múltiplos heterónimos eram de facto diferentes entidades) e um dia saia algo mais do que um monte de tretas perecíveis, justificadamente.

Ah, e happy endings? Na vida real não há happy endings. Há endings. Não interessa o quão happy tu foste. "Every living creature dies alone" (Donnie Darko), levei horas a pensar nisto, penso que já escrevi sobre isto, a experiência da morte é pessoal e intransmissível, e o facto de isso te deixar desconfortável não o torna menos verdadeiro. Não interessa se tens o teu amor ao lado. Não interessa se ele/a morre ao mesmo tempo. A tua morte é tua. E eis outra coisa que deixa as pessoas desconfortáveis: o facto de a tua vida ter sido uma tempestade de merda não te dá um free pass para um final feliz. Há, realmente, e por mais que não queiram pensar nisso, pessoas que sofrem, sofrem, sofrem e... morrem. Boom. Não sei se vou apostar num final infeliz, mas hollywood endings são hipócritas e hipocrisia não é comigo.