02 October, 2017

Diário de (mais) um dia (muito) mau

Novo médico. Nova prescrição. Será desta? O tempo voa e o relógio está em fast forward, não tens tempo para experimentar mais 10 até acertar. Este ano o filme não se pode repetir, mas a ameaça paira e o tempo não tem botão de pausa.
Estúpidas consultas, cada nova tentativa é um novo inferno, não cruzes os braços, ele percebe que estás na defensiva, não escondas nada, se é para ser é para ser, não ocultes nenhum pormenor, nem mesmo os mais insanos, é por estares insana que estás aqui. Não chores, porra, estás sempre a chorar, ele vai pensar que te estás a fazer de vítima, vai pensar que estás a fazer-te de vítima para levares as drogas mais potentes. Tens de lhe dizer que esperaste 6 anos para tomar este passo precisamente porque não querias precisar de drogas, é importante que ele saiba disso. Faz-te perguntas armadilhadas, perdes o fio à meada, ultimamente perdes sempre o fio à meada, baralhas-te, tens a distinta sensação que ele pensa que estás a mentir. A outra disse que era grave, perguntas-lhe também, nem sabendo bem se preferes ouvir um sim ou um não. Ele olha para as tuas pestanas e diz que lhe parece moderada, porque se fosse grave não te levantavas da cama, não irias fazer as pestanas, provavelmente já terias arrancado as originais. Ele não sabe dos pratos debaixo da cama, mas essa parte não lhe contaste, "tudo mesmo tudo" não inclui os pratos debaixo da cama.
Quando finalmente já paraste de chorar, revives o momento e a voz do homem que fuma no gabinete ressoa dentro da tua cabeça: "não me leve a mal ser tão direto, mas eu acho que você precisa mesmo é de ser amada". Tens as pálpebras pesadas, as pestanas tão falsas como a tua felicidade coladas umas às outras, reviradas, traduzindo pela primeira vez como te sentes por dentro. No shit, Sherlock.
O teu diagnóstico não é esquizofrenia. Mesmo que às vezes te pareça que nada é real, mesmo que
às vezes te pareça estares no Truman Show (mas quem teria interesse em ver, sendo tu a protagonista?), não lhe podes dizer que sabes que estás amaldiçoada, porque aí ele ou te declara doida ou burra, e não sabes qual delas a pior.


Não basta estares onde estás, olhando sem querer olhar cada sósia ou quase sósia que passa, tendo palpitações e suando em bica ("não, estou bem, só está muito calor), ironicamente (sabes o que era irónico, oh deus? Parares com estas ironias de terceira!), a conversa com o novo-que-não-chegará-a-sê-lo toma um rumo inesperado, apercebes-te que a história se repete, claro, mas é claro, mais um, mais do mesmo, irritas-te embora já o esperasses, mas se há uma certeza na tua vida previsível é a de que não vais passar por isso uma terceira vez, não sobrevives, se o teu destino é que ninguém tenha o coração livre para ti então ficarás sozinha, tu até gostas, estás apenas farta da falta de originalidade, (ó boy, arranja outro rebound, eu nunca mais o serei a menos que me enganem muito bem e tu nem tentaste disfarçar (bem), portanto obrigada pela poupança de tempo, que já há muito que não estava em promoção).

Dás por ti em modo auto-destrutivo novamente, pegas no carro, aumentas o volume, pouco a pouco, só até estar suficientemente alto para quase calar as vozes na tua cabeça, dás por ti a caminho do casino a 140 à hora, quase falhas uma curva com indicação de 60, estás cega, cega de raiva, cega de frustração, entras com um sorriso desafiador, apetece-te perder o dinheiro todo, ao mesmo tempo apetece-te ganhar o suficiente para te enfiares num avião qualquer (é assim que sabes que estás no fundo, quando a ideia de voar nem te mete medo) e desaparecer. Só desaparecer. Interrogas-te se estarás a ser desnecessariamente dramática ao pensar que ninguém ficará realmente triste e chegas à conclusão que não. Perdidos porque precisam de ti? Certamente. Arrasados por TI? Não. Perdes quase tudo mas no último minuto recuperas um bom bocado, vens embora porque tens fome, são 22h e não comes desde o meio-dia, sentes-te melhor durante meio segundo ao recordar as vezes que todos os dias te têm dito "estás tão mais magra", ficas ainda pior porque isso nunca antes te deixaria tão indiferente, compras uma garrafa de vinho, a última durante pelo menos 6 semanas (atreves-te a pensar que este funcionará, ou fias-te na quase certeza de que seguirá o molde do último, porque nada que sirva para te deixar mais feliz poderá alguma vez funcionar?), chegas a casa e começas a seguir diligentemente o conselho que te deram, escreva um diário, escreva como se sente.

Como me sinto? Sinto que me perdi e nunca me vou encontrar, sinto que quero deitar-me em posição fetal e ficar assim para sempre, até que me libertem ou que eu finalmente encontre forças para me libertar. Chega, sr. Dr.?

28 September, 2017

Make it Stop

He has nothing to do with you.

It's just my mind playing tricks on me. He's so different, a polar opposite. What little I know about him, anyways. It was just unfortunate that he was wearing his hair like that in that photo, and that unfortunate shirt with those unfortunate colours. It was an unfortunate accident. An unfortunate coincidence. Nothing more. Just unfortunate.

It was just once. Just one photograph. It doesn't mean I'm seeing you in him, meshing you together because you're still here, in me. It doesn't mean I chose him because he looks like you. He does not look like you. He looks like himself.

He has nothing to do with you. This can't have anything to do with you.

14 September, 2017

Kindness of a stranger

Acho que tal como há pessoas a usar óculos com lentes cor-de-rosa, há outros de nós cujas lentes vão progressivamente escurecendo, a ponto de já não nos permitirem ver nada que não seja escandalosamente brilhante. E como as coisas de maior contraste, essas coisas escandalosamente brilhantes, são ou muito boas ou horrivelmente más, as que mais se destacam no cinzento dos dias, é só isso que nos entra pelos olhos.

O principal problema é que as coisas horrivelmente más são muito mais do que as coisas muito boas, ou pelo menos assim nos parece, talvez por nos passarmos a focar cada vez mais nelas, como as falhas no pavimento que eu tentava evitar por pura superstição, e ainda hoje tento, de vez em quando. Quanto mais coisas más já vimos, mais parecemos ver, e mais frequentes se tornam. Não é só o telejornal, e a fome, e o racismo, e o terrorismo, e os desastres naturais. São as insignificâncias do dia-a-dia: o homem que não nos cede a vez na fila do supermercado quando só temos na mão uma lata de atum, a besta quadrada que vai exatamente no meio da estrada, entre as duas faixas, a criatura sem consideração que paga 20 contas no multibanco, e leva o seu doce tempo, sem se importar minimamente com a fila de gente a bufar que aumenta atrás de si. É o cinismo, o "me, me, me!", a falta de humanidade e de civismo crescentes. Principalmente se não nos ensinaram o "me, me, me", e se de alguma forma nos ensinaram, ainda que sem querer, que nós não só não estamos em primeiro, estamos em último, e nós queremos mudar a ordem, queremos fazer uma ultrapassagem, mas temos medo de já sermos demasiado velhos, demasiado formatados, para saber como.

São coisinhas, pequenas chatices do dia-a-dia, mas quando não são intercortadas por nada de bom, dias e dias a fio, e quando a cada ano que passa a vida nos encurta um pouco mais o fusível, começamos a assustar-nos porque a dinamite já não está a uma distància segura, e quando cerramos os pulsos com os gritos das crianças, a ideia de voltar a ver a cores parece cada vez mais distante, e a explosão irreversível da nossa sanidade começa a parecer um dado adquirido.

Nos filmes, o protagonista passa geralmente por uma série de tribulações, mas depois há um momento-chave, em que se lhe abrem os olhos para a beleza do mundo novamente, seja através de que veículo for. Tal deveria acontecer também com as pessoas, é este o problema de pessoas como nós, o de achar que "deve" haver justiça no mundo. Não deve, não "tem de", e por vezes o protagonista sofre horrores, e de repente "pum", morre. Não recebe nunca a felicidade merecida. Merecida porquê? Porque sofreu? Quem sou eu, quem somos nós, para exigir esse tipo de retribuição? Mais, quanto mais nos revoltamos com o nosso sofrimento, parece que mais longe ficamos de sair dele, porque os deuses gostam de assistir à tragicomédia.

Eu não sou o tipo de pessoa que está a ter um dia mau e de repente surge algo que me faz acreditar na bondade humana e torna as lentes dos meus óculos mais claras. Eu sou o tipo de pessoa que secretamente espera que isso aconteça (não sou assim tão pessimista como me creêm, e essa é talvez a razão de ainda não ter desistido, quando teria todas as razões para o fazer), mas depois o dia vai de mal a pior, as pessoas vão de irritantes a autênticas bestas, e não surge nenhum anjo disfarçado para me dar uma mão ou um abraço.

Por isso é que o dia de hoje precisa de ficar guardado, nem que seja só aqui, só para mim. Porque hoje senti finalmente aquilo a que chamam "kindness of a stranger" (não foi a primeira vez, mas a última foi há tanto tempo que quase duvido que tenha de facto existido). Hoje, no momento em que mais precisava, no momento em que estava prestes a quebrar, no último segundo antes da detonação, estes dois "strangers" foram para comigo mais amigos do que qualquer um a quem chamo amigo o tem sido nestes últimos tempos (é, de facto, uma seca, estar perto de alguém que nunca está feliz, eu entendo... não dói menos por isso). Não o torna menos importante o facto de ter precisado da validação de estranhos, não lhe tira o significado por isso, mas numa pequena conversa, revitalizaram uma parte de mim que tinha entrado em coma, fizeram-me perceber algo que quero (mas não quero), para o meu futuro, e fizeram-me sentir... querida. Em vez de invisível ou merecedora de todo e qualquer ataque, porque é assim que tem de ser. Estou-lhes eternamente grata, mesmo que daqui a um ano a minha memória doente já não tenha espaço para eles, e espero que algo de bom lhes aconteça pelo bem que me fizeram hoje. Sou supersticiosa (e já aprendi a não falar antes de ter certezas, as possíveis), por isso não vou sequer atrever-me a pensar nisso até que possa ser materializável. Mas mantenho naquela gaveta aquele cartão. Talvez nunca ligue para aquele número. Talvez ligue e ninguém atenda. Talvez atendam e nada aconteça. Mas talvez, um talvez quase inaudível... Talvez.

05 September, 2017

Random

Eles dizem que a melhor forma de acabar com o writer's block é escrever. Escrever. Escrever, escrever, escrever. Mesmo um monte de merda é melhor do que não escrever nada (será?). Sabes, isto é chato porque não há de facto muita coisa que eu queira fazer antes de morrer. Aliás, há, claro que há, mas só uma delas tem o potencial de me transformar numa alma penada arrependida, mantendo-me presa neste patamar, mas não totalmente, movendo objectos e assustando os não-mortos.

Eu Quero escrever um livro. "Escrever um livro e plantar uma árvore", gozava uma amiga. A culpa não é minha. Não fui eu que resolvi publicar livros de pseudo-celebridades com a ligeireza de quem pede um café. Mas é verdade: hoje toda a gente escreve um livro. Toda a gente que não interessa e que nada tem a dizer. Provavelmente até através de um escritor fantasma, que fica com uns cobres mas não com o crédito, mas nem o quereria, se tivesse alguma dignidade.
Falando em fantasmas, se o meu livro alguma vez se materializar, pode nem ser editado. Posso tentar tudo, e ninguém o querer. Independentemente de induzir o vómito ou ser uma pequena obra-prima. Mas tem de SER. Tem de existir. Há muitas coisas que julguei serem a minha missão neste mundo que não passaram de desvios, de distrações. Só uma permanece.

Mas como? Não quero contos, sem nenhuma razão que o justifique para além de me querer torturar à procura de um princípio, de um meio e de um fim que se interliguem de uma forma que não me envergonhe e que cheguem para 300 páginas, give or take. Ideias já tive muitas. Algumas fantásticas, mas todas essas foram a 30 segundos do sono e a preguiça e a falta de forças (ainda não somos livres de usar a palavra "depressão" sem julgamentos - inclusive nossos?') não me deixaram registá-las. Também uma forma de auto-sabotagem diferente daquela a que estou habituada, sem dúvida. Quero uma algo que seja eu, mas que fuja de mim, que fuja dos meus vícios e dos meus temas já exaustos.


Eu sei que tenho andado convenientemente a enganar-me, dizendo-me e a quem se quiser interessar (ninguém) que quero algo como deve ser, que não tenho maturidade para escrever nada que possa ser levado a sério. E é de certa forma verdade. Li mais do que a média, sim, mas a média não lê nada. Li praí 5 clássicos (dos mais fininhos) e muita merda de que não gostei, por isso se calhar não é merda, os meus gostos é que são. ou, como sempre temi, sou demasiado burra para ver os significados belos e subtis que insistem comigo que existem, quando eu só vejo disparate e pretensão. Falta-me muita estaleca para escrever como quero (originalmente tinha escrito "ser quem quero", interessante), porque ter jeito com as palavras não chega, tudo isto tem uma parte muito calculista, e eu não entendo de calculista nem de racional.
Ainda assim, sei que preciso de algo com que alguém como eu se possa identificar. Não será emo, morria se fosse, mas tem de imitar a vida real no sentido em que tem de deixar claro que as únicas pessoas que acreditam que não há sorte nem azar, ou que nós fazemos a nossa própria sorte - são pessoas que a têm. Quem tem azar sabe - porque não há como não saber. Não é pensamento negativo. Eu não pensava negativamente com 10 anos. Nós sabemos - não importa o quanto isso incomode o racional - que certas coisas não são para nós. E fingir que não soa a falso porque o é. Preciso de personagens que soem a reais, não traumatizadas para shock value, mas reais, com os seus demónios e virtudes. E preciso de construir um mundo em que a empatia não exista e quem a tem seja perseguido como no holocausto. E além deste material para 10 páginas, só um vazio. Talvez se eu continuar a debitar inutilidades os meus dedos ganhem vida própria ou façam um "channeling" (teoria marada que ouvi -  o Pessoa era de facto um canal para aliens e os seus múltiplos heterónimos eram de facto diferentes entidades) e um dia saia algo mais do que um monte de tretas perecíveis, justificadamente.

Ah, e happy endings? Na vida real não há happy endings. Há endings. Não interessa o quão happy tu foste. "Every living creature dies alone" (Donnie Darko), levei horas a pensar nisto, penso que já escrevi sobre isto, a experiência da morte é pessoal e intransmissível, e o facto de isso te deixar desconfortável não o torna menos verdadeiro. Não interessa se tens o teu amor ao lado. Não interessa se ele/a morre ao mesmo tempo. A tua morte é tua. E eis outra coisa que deixa as pessoas desconfortáveis: o facto de a tua vida ter sido uma tempestade de merda não te dá um free pass para um final feliz. Há, realmente, e por mais que não queiram pensar nisso, pessoas que sofrem, sofrem, sofrem e... morrem. Boom. Não sei se vou apostar num final infeliz, mas hollywood endings são hipócritas e hipocrisia não é comigo.

26 January, 2015

Estas coisas, para mim, são um bocado como engolir um ácido. Primeiro há uma aceleração brutal, depois uma felicidade desmedida, e depois, quando passa, acabo por ficar meio fraca e triste e não sei bem porquê. É como se num minuto estivesse a ouvir uma música daquelas parvas e felizes, e a cantar a plenos pulmões, e no minuto seguinte lembro-me de quem sou, lembro-me de que não posso, e só penso que está novamente a acontecer, e tenho de acabar com isto, porque para mim não dá. A minha garganta começa a fechar, as mãos começam a suar, o coração dispara, e aquela sensação de morte eminente dá a cara mais uma vez. Não é um ataque de pânico, porque um ataque de pânico aparece do nada (ou tem triggers, mas aparece aparentemente do nada), e só tens de surfar a onda e deixá-lo passar. Não que seja fácil. Certamente não é agradável. Mas é rápido. E isto digo eu com base no que ouço os outros descrever, que eu já tive mini ataques de pânico, ou começos de ataques de pânico, mas nunca tive um como se quer. De qualquer forma, isto é como uma tortura lenta e irritante, em que o pior de tudo nem é a dor que te infligem, é a ameaça da dor que te vão inflingir. É a tua imaginação. Eu sei que só acaba quando fizer o que de mim é esperado: acabar com tudo no primeiro ato, antes que a garganta feche de vez e o ar me fuja dos pulmões.

É engraçado que numa qualquer dimensão absurda, o G me tenha feito o tipo de declaração que qualquer outra alma acharia maravilhosa, e eu acho uma vergonha. Como se atreve a humilhar-me numa sala cheia de gente, que olha sarcasticamente, cheia de ácido e veneno, para a miúda que ele trata por mulher, a quem chama "a mais bonita que já teve a sorte de conhecer"?.  Consigo ouvir os "pffffs" ecoarem pela sala. Isto é tudo demais, e parte de mim acha que isto seria demais mesmo que o meu limiar de "demais" não fosse tão baixo. Estes grand gestures não são para mim, e eu ao menos tentei ser sincera com o G, mas acho que ele não percebeu a real dimensão do meu problema, ou do meu cinismo. É assim, G: gosto que me trates de igual para igual, gosto que me assumas mulher ao invés da miúda perdida que outros viram antes de ti. Mas também acho que me leste erradamente, acho que nos perdemos na tradução e que pensas que isto é só uma chaticezinha em vez do problemaço que é. E eu disse-te que tu és um gajo sério e com idade para ter juízo, e eu, fodida como sou, não quero apesar disso fazer-te a ti nem a ninguém perder anos preciosos, para daqui a 3 anos me gritares que andei a gozar contigo e a fazer-te perder tempo. I'm not there yet, ok? Talvez um dia esteja. Talvez não. Mas tu estás. Tu estás na onda da esposa, e dos filhos, e dessas coisas todas, e até não me parece que seja só porque sim, até não me parece que se fosse eu seria outra qualquer... Até me parece que querias mesmo que fosse comigo. Mas eu não posso. Não posso, não quero e não consigo. É o pior cenário para alguém como eu. Baby steps, e passos de caranguejo também. Um para a frente, dois para trás. Não penses que isto não me começa já a fartar. Mas ainda não consigo. Perdoa-me. Ao menos fui sincera, e não te fiz perder tempo. A menos que queiras mesmo.

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Por outro lado. esta história do G fez-me perceber: O G é exatamente o que o Outro queria e nunca conseguiu: dinheiro, cultura, conversa, estilo para caraças, O G também poderia ter ficado preso num qualquer moinho de areias movediças. O G também poderia neste momento estar a contemplar a sua vida e a quase deixar cair uma lágrima, por não ser aquela a paragem onde devia ter saído, mas o G nunca perderia a postura, o cavalheirismo ou a bondade em ressabiamentos e subterfúgios. O G é quase perfeito, e eu sou uma parva que talvez um dia consiga realmente ver isso, mas se o G não serve para mim, o Outro então nem a milhas, e a única coisa que me ofende nesta história é que ele tenha a audácia de pensar que sim.

22 December, 2014

I get to the front of the line, and the check opens up that leads to the non-horrible looking guy. As I put my books down on the counter, he makes this face. Confused, I would assume.
- So, is any of these for you?
- The Murakami one.
- Ha! I was afraid it was the past lives one.
- I was afraid you thought it was that one too.
- No, not really. Insteresting selection though.
- Well, Murakami for me, the one about politics if for my dad and the mambo-jambo one is for a friend. She breathes that crap.
- Maybe you should buy her something better, try to turn her off of it.
- That would be impossible. I'd rather buy her something she likes, regardless of my own thoughts on the matter.
- I see. Well, believe it or not I say way more people buying that crap then I'd like to admit.
- I believe you. Sadly, I do.
- It's 48,50.
- Outch.
- If you'd like I could maybe make you a small discount, but since I can't really make discounts here unless announced, how about I take you out for a cup of coffee or something?
- You're cute. Does that ever work?
- Does what ever work?
- That line.
- It's not a line. I would like to take you out for coffee, that's all. I would like to keep talking to you and there's a big line behind you.
- I see. Do you say that to all your clients? Is it supported by the management? Is it a marketing strategy?
- What? You're crazy.
- And that's the point, and the reason why I'll have to say no to your request.
- Becayse you're crazy? That's ok, I like crazy. Really. Maybe a little too much.
- I'm not the kind of crazy people like. Thanks and happy holidays, bye.

23 November, 2014

I'm alive. Do you know how important that is?
No you don't.
Of course you don't.
I could be lying dead in a pool of blood, and you would know 3 days later like the rest of them. And that's ok.
I lie,
That is not ok.
That is NOT ok.

08 November, 2014

Everything and yet another nothing

Tudo isto começou com (mais) um sonho. Tenho de fazer um diário de sonhos. Não por qualquer razão esotérica, mas porque supostamente nos ajudam a perceber o nosso subconsciente. Mas nunca o fiz, e os sonhos esquecem-se quase por completo assim que te abanas a ti mais o choque para fora de ti, e consegues voltar a adormecer, e agora já não me lembro daquele. Sei que ias para o Tibete. Já não sei se ias comigo ou sem mim. Só me lembro do Tibete, nem sei se sabias que eu sempre quis lá ir. Não sei se me disseste que ias, só para me magoar, ou se fomos os dois. Se calhar já lá estávamos. Não faço ideia. Mas havia qualquer coisa sobre o Tibete, e paisagens do Tibete, e ai, sei lá eu.

Foi qualquer coisa, e atrofiou-me, porque eu sonho com demónios e cadáveres de tripas de fora, e noivas em fuga (oh, este nem precisa de diário). Não com fantasmas do p(re)ssado. Irrita-me solenemente que tenhas aparecido no meu sonho, mas farto-me de rir perante a ideia (hipotetequíssima) de te dizer para parares de lá dar um saltinho.

Assim, seja como for, leram-me a sina no outro dia. Eu não queria. E quando quis, porque subestimei a força do lambrusco que me fizeram beber, só disse “só não me diga quando vou morrer”, e o resto seja o que Deus entender. Eu não acredito cegamente em nada, muito menos em nada que me pretenda extorquir mundos e fundos para me dar respostas vagas. Mas para quem já teve coisas muitos estranhas a acontecerem, que corrente de ar nem cansaço mental nenhum justificavam, é impensável negar a cem por cento o que nos dizem nestas brincadeiras. Sim, passado meia hora esquecemos. Mas nem por isso.

Então, comecei a sessão estilo super mulher de carreira, só perguntas profissionais. Era eu que partia o baralho, era ela que dava as cartas. A última era invariavelmente a do Triunfo. Deus te abençoe, filha, que eu não posso. À medida que o alcoól me ia invadindo o sangue, e motivada por tanto potencial triunfo, dei por mim a perguntar coisas que nem sabia que queria perguntar. Lá veio o triunfo outra vez, mas só se se mexer “querida”. A querida não se mexe, senhora bruxa. As suas cartas deviam-na ter avisado- Porque diabo terá de ser sempre a querida a mexer-se? Não. Prioridades. Tempo. Se não te dão tempo não és prioridade, hã?

Agora reparei noutra coisa. Também sem querer, juro. Não sou stalker. Já tenho medo que por o dizer tantas vezes pensem que sou, mas juro que não é o caso. Duas coisas me assustam: a morte, e stalkers. Nunca. Stalker, nunca. Isto são coincidências infelizes, e mais nada. A não ser que a criatura que vai para o Tibete comigo, ou sem mim, sei lá eu, esteja a fazer tudo isto de propósito, tão absurdamente cruel que ninguém iria chegar lá.

Não- As pessoas normais não são assim, certo? As pessoas estranhas como eu veêm sinais em tudo e mais alguma coisa, e as pessoas normais riem-se, porque não têm imaginação ou criatividade suficientes para ver as coisas da mesma forma… Certo? Ou porque sabem que as coisas não são realmente, assim tão complexas. As coisas são aborrecidamente simples.
E aqui, peço desculpas à Maria com 17 anos, que veria sinais mágicos e aborreceria as amigas com incessantes “tás a ver? Tás a ver? a nossa música estava a dar enquanto nos cruzámos no corredor”. A Maria com 27 anos pede desculpas por: a) ser burra há 10 anos atrás e achar que havia such a thing como sinais, ou b) estar tão cínica e formatada, que ignora todas as ajudas do Universo e se recusa a entender a mensagem que têm para lhe dar. E daí, oh Universo. It takes two to tango. De que me serve a mim, sozinha, ver a luz?

Ah, pois. Good luck with that.

23 October, 2014

Do you still remember me?

Do you even remember me?

Will I show up among the million images you’ll see as your life flashes before your eyes?
Or will I be a blank page someone ripped off because it was bland, boring, not interesting enough? Not meaningful enough?

I find myself missing the kitchen floor, and that silly song that was the best thing I’d ever heard because you showed it to me. I don’t want to go back. I wouldn’t go back there. There’s no complex reasoning behind it. I’m not hurt – well, I am, but it’s not like that. There’s no feeling left. None. Zero. And that’s what I miss. A time when I felt so much, too much, and I just wanted to be a cynic, I just wanted to be dead inside. But that’s the problem: if you had ever been dead inside, you would never want it again. You’re talking out of your ass, as usual. Until you’re not. Until you understand, you’re there. It happened. And now you just want to go back and you have no idea how to.

I would give anything to go back to that. Not to that moment. Not to you. To who I was. To this naïve idiot who would laugh like a maniac on a kitchen floor, because she was in love. To this person who would believe, even if for a second, that everything would work out. Who would make sappy playlists on her ipod and sing along in the rain, and not give two fucks if she looked crazy, because she was. And she was glad she was.

To this dumbass who just wanted to be in love. And to whom the worst possible outcome would be dying without knowing what that felt like. She didn’t want money, she didn’t want fame. She would welcome them, but in her dying bed, they wouldn’t matter. Only love would matter. And now she’s all grown up, and all fucked up, and she’s come to realize that not everybody gets a happy ending. That’s just something people say. Some people really do die alone. Oh well. That’s not her – why the fuck am I calling me “her”?  - problem. It never was.


Her – my – problem is that I’m starting to understand that maybe, just maybe, I am meant to end up alone. Not just out of bad luck, not just due to my commitment phobia. When I am alone I’m adjusted, happy, relaxed. And when I get close to falling in love I turn into this train wreck nervous mess, I’m destructive, uncomfortable, weird. Being in love is not my natural state. I don’t know how to deal with it. And without fail, I always fail. Maybe my problem is that I find it too hard within myself, to admit, in this society, that maybe, just maybe, I’m happier being alone. Or maybe my problem is that, even though I know all this, I’m still not ready to die without knowing what it feels like to (really) be loved. So can somebody just love me already, so I can fuck it up and then be blissfully happy alone for the rest of my days? Thanks.

17 October, 2014

Saí de casa, e o cheiro a fritos do hall ficou-me no nariz durante uns bons 100 metros. Quem é que frita batatas hoje em dia? Nem quero saber, Lá ia eu, a andar ao ritmo das músicas absurdamente perfeitas do mp3. O A veio atrás de mim, não sejas fraca, e há uns bons anos eu teria respondido que ser fraca era não lutar, mas não agora. Ser fraca, ser fraco, isto não é uma questão de género. É humilhares-te, Seja o que for que isso significa para ti. E eu não preciso de uma restraining order para me dizer que me estou a humilhar. Basta um olhar trocista. E é demais.
Mas eu humilho-me tanto ou menos que a história o permita. Há uma rua, que cada vez que lá passo, sinto um arrepio na espinha. E depois, nunca tive de levar um sopapo na cara para ver a realidade. Tive de dar muitos. O meu orgulho vale quase tanto quanto a minha vida. Se esperas que me ponha de joelhos, e não para te satisfazer mas para te implorar, já esperaste demais. Se tiver 70 anos e disser às minhas netas para não serem tão orgulhosas, tu e a tua stepford wife vão estar a rir-se, Mas se gostasses de mim, não exigirias que me agachasse, nem que te chupasse o ego.

04 September, 2014

Just a silly questionnaire.

1.      How old would you be if you didn’t know how old you are? 19
2.     Which is worse, failing or never trying? Never trying (for fear of failing)
3.     If life is so short, why do we do so many things we don’t like and like so many things we don’t do? For fear of judgment/trying to fit in/social convention/responsabilities
4.     When it’s all said and done, will you have said more than you’ve done? I hope not.
5.     What is the one thing you’d most like to change about the world? Lack of empathy in general
6.     If happiness was the national currency, what kind of work would make you rich? Being a doctor or an advocate for women’s rights.
7.      Are you doing what you believe in, or are you settling for what you are doing? A bit of both.
8.     If the average human life span was 40 years, how would you live your life differently? I would stop justifying myself all the time. And I would travel a lot more.
9.     To what degree have you actually controlled the course your life has taken? Some, a lot of it just happened.
10.  Are you more worried about doing things right, or doing the right things? Doing the right things
11.   You’re having lunch with three people you respect and admire.  They all start criticizing a close friend of yours, not knowing she is your friend.  The criticism is distasteful and unjustified.  What do you do? I tell them that she’s my friend and they’re only saying those things because they don’t really know her well enough. And I probably won’t admire them as much after that.
12.   If you could offer a newborn child only one piece of advice, what would it be? Be genuine and never let them break you.
13.   Would you break the law to save a loved one? Yes
14.   Have you ever seen insanity where you later saw creativity? Always
15.   What’s something you know you do differently than most people? I couldn’t put on a mask, even if I wanted to. Also, having the ability to put myself in someone else’s shoes.
16.   How come the things that make you happy don’t make everyone happy? Everyone’s different.
17.   What one thing have you not done that you really want to do?  What’s holding you back? Being a doctor, what’s holding me back is not knowing chemistry and feeling like I’m too old to go down that road.
18.  Are you holding onto something you need to let go of? Yes.
19.   If you had to move to a state or country besides the one you currently live in, where would you move and why? USA, always wanted to live there.
20.  Do you push the elevator button more than once?  Do you really believe it makes the elevator faster? No.
21.   Would you rather be a worried genius or a joyful simpleton? Joyful simpleton, no doubt. Ignorance is bliss.
22.  Why are you, you? Because I couldn’t be anything else.
23.  Have you been the kind of friend you want as a friend? Not always.
24.  Which is worse, when a good friend moves away, or losing touch with a good friend who lives right near you? When a good friend moves away
25.  What are you most grateful for? Still having a chance at happiness. Stil breathing. Finally starting to learn a few things about life.
26.  Would you rather lose all of your old memories, or never be able to make new ones? Lose all my old memories.
27.  Is is possible to know the truth without challenging it first? No.
28.  Has your greatest fear ever come true? Maybe, but I’ll only be sure the moment I die.
29.  Do you remember that time 5 years ago when you were extremely upset?  Does it really matter now? Not the moment in itself, but it matters what it did to me.
30.  What is your happiest childhood memory?  What makes it so special? Any memory of my mom.
31.   At what time in your recent past have you felt most passionate and alive? Whenever I shared a laugh with good friends. And during my first anatomy class.
32.  If not now, then when? When and if I finally figure it out.
33.  If you haven’t achieved it yet, what do you have to lose? A dream
34.  Have you ever been with someone, said nothing, and walked away feeling like you just had the best conversation ever? No. But always wanted to. I have trouble feeling comfortable in silence.
35.  Why do religions that support love cause so many wars? Because even if the principles and values are right, the people who should apply them are corrupted and will always end up distorting them.
36.  Is it possible to know, without a doubt, what is good and what is evil? Some things yes, but there are grey areas.
37.  If you just won a million dollars, would you quit your job? Probably not.
38.  Would you rather have less work to do, or more work you actually enjoy doing? Less work.
39.  Do you feel like you’ve lived this day a hundred times before? Yes
40.  When was the last time you marched into the dark with only the soft glow of an idea you strongly believed in? It’s been a while
41.   If you knew that everyone you know was going to die tomorrow, who would you visit today? My best friends, and my dad.
42.  Would you be willing to reduce your life expectancy by 10 years to become extremely attractive or famous? Yes. I wish I could say no, but I would be lying.
43.  What is the difference between being alive and truly living? Learning to accept yourself, do the things you love and not apologize being who you are.
44.  When is it time to stop calculating risk and rewards, and just go ahead and do what you know is right? For me, now.
45.  If we learn from our mistakes, why are we always so afraid to make a mistake? Because sometimes we repeat them. We don’t always learn the first time.
46.  What would you do differently if you knew nobody would judge you? I would stop caring so much about other people’s opinions. I already do what I want to do, but I can’t stop letting judgment affect me too much.
47.  When was the last time you noticed the sound of your own breathing? Last night. I always do that when I have insomnia.
48.  What do you love?  Have any of your recent actions openly expressed this love? Literally falling to the floor laughing. Feeling vulnerable without being afraid. Books, sunsets, taking a good macro, eating without counting calories. childish silly moments with friends. Browsing through old memories. Daydreaming. Yes.
49.  In 5 years from now, will you remember what you did yesterday?  What about the day before that?  Or the day before that? Probably not. Nothing remarkable.

50.  Decisions are being made right now.  The question is:  Are you making them for yourself, or are you letting others make them for you? For myself, but I have yet to learn to keep them from influencing me completely.

01 September, 2014

This is an old text. And an actual reminder.

Man, I sure have a weird mind. It's just the same as when I'm in a public place and something bad happens. I start repeating to myself "Don't cry, just don't cry", and sure enough, before I know it my face is all wet and I can't stop it. I think my mind likes to sabotage itself. I never cry at home. Ever. Except from a few times watching really depressing movies. And even then it's usually just a single lonely tear. But in public, when I know I can't cry, when I know people will be watching, and commenting, I can't help it. It's the pressure. In job interviews, I always say I'm good under pressure. And I'm not lying. I'm good under pressure. Professionally. When it comes to my own pressure, I cave. All Hell breaks loose. I'm the crazy girl in the back, bawling and kicking and screaming, yet again.

I once tried saying "Just cry, you have to cry right now!". It helped. I didn’t cry. I don't know why I always forget to do that. But I do. I try to boss my mind around and the bitch's a rebel, it does exactly the opposite of what I tell it to do. So when I say "Don't panic", before I even let my inner voice finish the sentence, my whole body starts tingling, my heart starts racing, the butterflies start punching my stomach, and I'm in a frenzy. All of a sudden I'm thinking "Don't you dare mess this up". Which I always do. I need to use reverse psychology on myself. It's the only way. I'm being patient, I'm being funny and not too awkward, I'm being so freaking perfect that a big blowout is due anytime. Maybe the only way to prevent it is to tell myself to let it happen. I don't know. I'm freaking out. This is perfect. I don't do perfect. I do messed up, weird, impossible, foolish, punch-yourself-in-the-face pathetic. I'm not the perfect girl that has perfect things happen to her. I’m not the girl who can wear white and not spill on it. I’m the girl who starts sweating when she gets nervous – as my best friend says a little too often “you’re way too pretty to act like a geeky guy who sweats buckets as soon as the hot girl says hi to him”. But I kinda am, in a way.I'm the mess who's attracted to other messes and then has no option but messing it up even more.

I let the crazy out too soon. I never liked strategy games. I liked Age of Empires for a brief period but I gave it up because I didn't have the patience to create an army before I went on trying to conquer the land. I created something like 10 soldiers, 3 archers and a few guys on horses, can't remember the name, and then I threw myself into the arms of the enemy. It was always a massacre. I don't like chess, I don't like anything where you have to carefully plan your move and antecipate your enemy's moves. I'm too impulsive. If patience is a virtue I'm not a very virtuous girl. But I realise that love's a game and I'm tired of knowing the rules and losing anyway. Everyone's insane. But they're smart enough to not let it show too soon. They wait, they scheme, and when they finally let their freak flag fly, the poor bastard is already in too deep. I made a mistake by thinking I could just be myself, flaws and all, and it would be alright. Honesty is always the best policy, right? No. I was wrong. No one wants to see my flaws. Bastards want to be deceived. So I'm being smart. I'm like this polished little version of myself. Not too polished, I'm still kind of a noob when it comes to this game, but so far it's working. However, I'm left with another question.


What will happen when the mask falls off?

12 August, 2014

Dust

Hoje consegui finalmente ter motivação para arrumar a minha estante do quarto. Ao fim de... 6 anos? Oink oink. Bem, não há-de ser agora, que finalmente limpei aquela merda (quase literalmente), que tenho de me sentir uma porca. Sempre limpei o quarto. Mas aquela estante, onde incompreensivelmente se iam acumulando coisas e mais coisas, a ponto de me sentir cansada mesmo antes de começar a limpá-la, tornou-se uma espécie de monstro, com lugar cativo num programa tipo "extreme hoarding".

Então hoje, e durante as 6 horas (!!!) que levei a pôr as coisas em ordem, passei por mais emoções do que um bipolar passa num ano inteiro. Tanta coisa escondida, encavalitada em 4 prateleiras. Desenhos a aguarela. "Um beijinho da Mãe". Foda-se, Mãe, beijinhos simbólicos não me tiram as dores. E caramba, porque é que tinhas que desenhar tão bem? Eras perfeita, eu sei. Cartões de parabéns de pessoas que já não reconheço, a dizer que estarão sempre aqui quando precisar. Por momentos perguntei-me, e se ligar agora, e ler este cartão, será que vão dizer "claro, estou sempre aqui. Que se passa?". Ou dirão "querida, cresce, I don't care anymore"? Cartas de amor. Disfarçadas, na altura não pareciam, eu ou era demasiado cega ou não queria ver.

Memórias fantásticas e terríveis, confinadas num espaço de 3x1,5m. Sinto-me estranha. Sinto-me ingrata. Às vezes parece que tenho noção de que realmente, alguém me amou. Mais do que um alguém. E depois esqueço-me e volto a sentir-me unloveable, num total desrespeito pelos sentimentos de quem me provou errada. Sinto-me demasiado confusa entre o inferno que passei e o que inventei, quis ter-me mártir, e desrespeitei todos os que me sentiram como inteira. Está na altura de superar o que foi e o que foi na minha cabeça. Chega de desculpas. Tal como a estante, tenho de arrumar esta cabeça e desprezar tudo o que não passe de entulho.

06 August, 2014

Men-whores

Então bora lá! O Verão (ou verão, com a merda do acordo perdeu importância) parece ter finalmente assentado arraiais! Wingmen, wingwomen, you know your mission!

Seleccionar a criatura com o QI mais baixo do pedaço, a criatura que veio das brenhas mas lá permaneceu em espírito. Boa, let's all gang up upon her to get eachother laid.


É el Verano, eu não julgo. Cago-me a rir com a descida abrupta de standards. E qual descida? Desceram, ou nunca existiram? Opá, assim não. Ou, aliás. Assim sim. Keep it up. É lindo de se ver.


Innocent fun, right? Queres um macacãozinho azul, rosa ou amarelo pró que der e vier?

31 July, 2014

Florence Nightmare

Dizem que quando sonhamos que alguém morre, estamos a dar-lhe vida. Eu não sou propriamente supersticiosa, mas também não deixo de ser. Como tento sempre explicar às pessoas de forma ridiculamente simplista, acho que o simples facto de os homens terem um pénis e as mulheres uma vagina é uma coincidência demasiado perfeita para ter sido randomly generated num Big Bang ou coisa do género. Alguma coisa há-de haver, e acho uma pretensão gigante da nossa parte acharmos que não. Viemos de onde, afinal? E antes que entre numa daquelas dissertações que são claramente demasiada fruta para o nosso triste cérebro humano, que se sente enrolado e exausto quando entramos nelas, vou mudar para o assunto original: sonhos.

Portanto, segundo o povo, estou a dar vida à pessoa que sonho que morre. Mas e se sonhar que a pessoa morreu, ressuscitou, e voltou a morrer horas depois? Que raio significa isso? Deverei aplicar a regra dos pesadelos fodidos e contar a alguém, para que não aconteça? E se contar a um blogue que já ninguém sabe que existe, isso conta? Eu sei que ando a falar muito de sonhos ultimamente. Mas isso é porque tenho andado a ter sonhos macabros e extremamente gráficos, e acordo toda atrofiada. Mas sempre os tive. Só que às vezes deixo de ter, e por algum motivo quando voltam nunca estou à espera. Mas estes, já vão em dois. E eu não costumo ter sonhos repetidos, e sim, tenho vergonha de admitir mas é verdade, fico a questionar-me se quererão dizer alguma coisa.

Então, ando a sonhar de que os gajos de quem gostei morrem, voltam à vida, e morrem outra vez. No primeiro, era o único gajo que eu amei nesta vida. Pretérito perfeito. Mas não no sonho. No sonho ele morria, e lembro-me da dor que senti, e isso é que me assustou, no sonho eu ainda o amava e mesmo a dormir senti-o, lembro-me do desespero como se fosse palpável. Depois ele ressuscitou, sabe-se lá como mas no sonho nem me importava, lembro-me que fizemos amor, mas longe de um sonho erótico, era absolutamente horrível, nem sei bem porquê ao certo, mas eu amava-o à mesma. No dia seguinte íamos jantar fora, mas pessoas que não sei quem eram pararam-me no meio da rua, tipo filme, e disseram "I'm so sorry, he's gone"-E como num filme B, corri para um saco do lixo que estava ali ao pé, e lá dentro estava o coração dele (lembro-me agora de um pormenor importante, ele tinha voltado à vida porque lhe tinham substituido uma válvula cardíaca, que aparentemente falhou). Bem, horrível. Horrível ter parecido tão realista, apesar do ridículo que foi.

Sonho segundo, fui sonhar com o A. Por mais que o meu orgulho não o queira admitir, eu nunca amei o A, mas estive lá perto. O sonho com o A foi medonho. Neste, ele não ressuscitou. Mas, à Sci-fi, morreu, e contaram-me que tinha caído de um telhado. E o dia seguinte não era o dia seguinte. O tempo tinha voltado incompreensivelmente atrás, estávamos no dia em que ele iria morrer, e cabia-me a mim evitá-lo. Em vez de parecer que estou a contar sonhos absurdos só porque sim, gostava de conseguir transpôr para as letras o quanto estes sonhos me transtornaram. Em primeiro lugar porque eu amava estas pessoas e conseguia senti-lo como neste momento sinto os meus dedos a bater no teclado. E isso fez-me um confusão enorme, porque fui logo sonhar com as duas pessoas que realmente me poderiam fazer sentir assim, mas não agora, e não nos últimos bons anos. Fucks me up. Mas continuando. O A era no meu sonho. tão destrutivo, ou quase, como o é na vida real. Pior, vivíamos numa cidade universitária inventada pelo meu subconsciente. onde em todos os telhados havia um toldo gigante tipo trampolim, e os estudantes, em vez de andarem a pé como no mundo real, saltavam de toldo em toldo, para se deslocarem pela cidade. E ele ia morrer caindo dum telhado. No meu sonho disse-lhe que ele ia morrer. e para ter cuidado, e ele riu-se de mim, como o faria na vida real. Então dei-lhe a mão, e saltei de toldo em toldo, com ele, a cidade lá em baixo, a 10metros de altura. Mas sobrevivemos. E quando começámos a andar pelas ruas como pessoas normais, eu tinha de o desviar da rota do comboio turístico, e de carros desgovernados que vinham contra nós. O pânico era real. Aquilo não era um sonho. Às vezes penso se os sonhos não o serão, e serão as nossas vidas numa outra dimensão, mas this is too much and I sound insane. Chegou a um ponto em que já tinha passado da meia noite e ele não tinha morrido, mas eu nem por isso estava descansada. Ele quis ir a uma festa e eu fui com ele. Não era uma festa numa casa. Era em ruelas tipo Bairro Alto, rodeadas de casas de 2/3 andares. A certo ponto ele desapareceu, eu estava bêbeda e corria as ruelas em desespero à procura dele. De repente começou a tocar uma cena super estranha, uma mistura da minha música preferida de Blink com a dele de Good Charlotte. E eu soube. Corri, em profundo pânico, tanto que ainda o sinto ao escrever isto. E vi-o à beira de um telhado, com uma bezana maior que ele, e soube que já não ia a tempo.

Nunca na vida sonhos me traumatizaram tanto como estes. Mas penso que, se ignorar a parte da superstição e for apenas pela parte pela parte psicológica, isto até pode ser bom. Só sonhei com 2 pessoas. Nenhuma terceira fez uma aparição. Ainda bem. That says a lot.

30 July, 2014

Sem sentido.

A gente nunca conhece verdadeiramente ninguém. Oh, diz-me algo que eu não saiba. Que as pessoas têm mil nuances, que são imprevisíveis, que a certa altura dá-lhes um vipe descomunal e começam a agir como o evil twin, e assim continuam, e que a gente fica a questionar-se se tiveram um curto-circuito e se tornaram uma pessoa diferente, ou se sempre foram assim e finalmente lhes caiu a máscara.

Toda esta conversa encaixa quando se fala de pessoas que conheces há anos e anos, e mais do que conhecer, conheces intimamente, a ponto de saber como aquela pessoa irá reagir em determinada situação, até que já não sabes mais porque as pessoas são imprevisíveis e esta resolveu relembrar-te isso.

Mas e se falarmos de pessoas que mal conheces? Se falarmos de pessoas como personagens de um conto nunca passado para o papel, na tua cabeça, a que atribuiste qualidades e defeitos fictícios só porque pareciam "encaixar" com a camada superficial que te mostraram? Odeio que me façam diagnósticos psicológicos/psiquiátricos baseados numa, ou em duas, observações casuais: sujeito A cruzou os braços quando lhe falei da infância, numa posição claramente defensiva, fechando-se a eventuais perguntas e aprofundamento do assunto. Sujeito A teve, obviamente, um qualquer trauma de infância. Ah, vão à merda com as vossas psicologias pop. Sujeito A cruzou muito provavelmente os braços por nada que mereça análise. Se calhar tinha frio.

Quem sou eu, então, para fazer tais diagnósticos? Quem sou eu para me sentir desiludida porque Sujeito B não é como eu platonicamente imaginei que fosse? Quem sou eu para me atrever a ofender-me por ter errado um diagnóstico que, em primeiro lugar não deveria ter feito, e em segundo lugar, não tinha dados suficientes para fazer? Não entendo porque insisto em querer tornar as pessoas em algo mais interessante do que realmente são, e me desiludir com isso à posteriori. Imagino heróis de guerra com PTSD enquanto à minha frente tenho vagabundos sem valores nem moral, e que muito se orgulham disso.

Ennui... AmIrite?

21 July, 2014

Fuuuu.... Só tenho sonhos absurdos e com falta de sal, mas vou sempre sonhar com o mesmo e queria parar. se fazem favor.

Um dia conto-te estas coisas todas, um dia mando-te o link desta porcaria deste blog, e se te acagaçares e fugires de marcha-atrás mando-te um "like", se fizeres como se nada fosse acho que te dou um soco, e tu não hás-de fazer nada porque sabes que seria merecido, e se fizeres mando-te outro, e tu sabes que a minha maldição dos braços gordos tem a sua razão de ser, foram muitos anos de ténis, há muito músculo nesta massa, ficas de quatro, já que não o ficaste da outra forma.

Às vezes gosto escrever só para mim, outras vezes pergunto-me se, já que sou tão teimosa e teimo em não aprender, não seria melhor mostrar estes diabos todos e perder-me por mil.

04 July, 2014

Não desejo a ninguém o peso de só ter uma pessoa no Mundo. E principalmente não desejo a ninguém (principalmente a mim própria) o peso de perder a única pessoa que se tem no Mundo.
Não é exagero. Não é drama. Eu só tenho, literalmente, uma pessoa no Mundo.

E ao fim de anos passados a telefonar obsessivamente, de lágrima ao canto do olho e diálogo interno aos gritos "CALMA CALMA CALMA" porque era meia-noite e ele ainda não tinha chegado, mas depois ia chegando sempre, eu aprendi a relativizar as coisas. Não é fácil ter uma pessoa no Mundo, e menos fácil é quando essa pessoa tem quase 80 anos. As coisas que podem correr mal são infinitas, e resta-me imaginar como será, e se será, daqui a um ano, dois, cinco?
Mas até hoje ele chegava sempre, e ou não tinha bateria, ou era demasiado nabo para saber atender o telefone, ou estava com a namorada nova (e isto é recente, que eu não o tenho como player, nunca foi, é-o um  bocadinho de nada se calhar agora, dá-me uma piada dos diabos, nunca é tarde aparentemente, mas também se é só uma não é player, é pessoa, gosta de companhia, como toda a gente, ao contrário do bicho do mato que lhe calhou por filha).

Mas tarde ou cedo, o carro estacionava sempre, a preocupação passava a irritação, toma-te! onde andaste tu tantas horas sem te dignares a dizer nada? Quase que gritava com ele, às vezes gritava mesmo, mas que falta de respeito, custava muito ligares a dizer que ias chegar tarde? Os papéis invertiam-se.  Filho és, pai serás. Às vezes pai de pai, é a paga pelos tempos em que ia à minha procura pela baixa, e eu o via através de uma rua transversal, corria para casa e me trancava no quarto cheia de medo. Abusando do poder, mas mais inocente e criança do que ele imaginava, talvez.

Hoje lá liguei outra vez, sentindo-me chata como sempre. Está tudo bem? Não, hospital, incoerências, tosses e sangues, o quê? Não sei, não sei de nada. Sempre vi toda a gente a falar casualmente dos pais, tios, primos, amantes no hospital com algo terrível. Sobrevivem sempre. Acho que é esse o truque. Como se não fosse nada. Eu, que me desunho, e toda eu tremo, e penso em coisas que não quero pensar, tenho apanhado quase sempre o pior desfecho. Não digo que os outros sejam insensíveis, mas há diferenças, há. Sei que tenho de levar como se nada fosse. Mas como, se é a minha única pessoa? Não me interessa que tenha 78 ou 100. É a minha única pessoa. Quando grito com ele, é por isso mesmo. Nem penses em deixar-me. Não quero saber.

Not yet, dad.

Not yet.

01 July, 2014

Nonsense II

Hoje tive um sonho daqueles. Daqueles de que não gosto. Dos realistas. Normalmente tenho sonhos absurdos. E mesmo assim sou demasiado estúpida para acordar a meio, demasiado estúpida para perceber que não é normal ter um alien e um demónio a perseguirem-me ao mesmo tempo. Mas assim que acordo, sei que foi um sonho. Agora os realistas, acordo e levo uns bons 10 segundos a perceber que ok, era tudo um sonho.Nem me interessa que pareça pouco tempo, são 10 segundos angustiantes na terra de ninguém.

Hoje enviaram-me uma carta. Scratch that, não enviaram, deram-ma em mão.
"Esta carta explica tudo"
"Mas que diabo, quem te diz a ti que eu quero que me expliques seja o que for?"
"Mas lê. Tudo vai fazer sentido.".
"Epá, mas que presunção da tua parte, achares que eu sequer queira que faça sentido. Não quero saber de nada disso, entendes? Get off your high horse"

Portanto, lá fui eu para casa. Sentei-me no sofá mais confortável que tenho. Acendi um incenso,como faço sempre que tenho de me acalmar, apesar de saber que não adianta de nada. A minha Tilde, lembro-me sempre dela gritando "MAS QUE É ESTA MERDA DESTE CHEIRO A MORTOS?!", e depois jogava sempre um copo d'água no pauzinho a arder, e realmente, esta merda começa a cheirar-me a mortos, mas tu nem sabes a que cheiram os mortos. Eu sei, mas para ti sou uma drama queen, e apesar de não reconheceres o cheiro a morto e eu dormir com eles, eu é que sou falsamente dramática, tu nunca.

Bem. Lá leio a carta. E reza do tipo nada. Nunca li nada tão confuso em toda a minha vida. E no dia seguinte perguntas-me se fiquei finalmente esclarecida, e eu, sempre com um medo mais absurdo do que os sonhos de parecer estúpida, digo que sim, mas fiquei na mesma, a carta foi igual a tudo, incompreensível. Páro na tua casa, pela primeira vez na puta, não sou stalker, antes fosse que tu queres é atenção, mas às vezes tenho atrofios do tipo de achar que até te mataste. E a gente sabe lá. fosse um sinal, lá estava o red, ainda cá estás, mas o sonho também não era contigo, contigo eu entendia-me bem, apesar de tudo, e a mim tu entendias-me bem, again, apesar de tudo.

13 June, 2014

Primeiro perseguiu a barata com uma sanha indescritível, um misto de emoção e medo, acertando-lhe finalmente uma paulada que a fez cair no lavatório, abrindo à pressa a torneira com a pressão máxima, e vendo depois a água a subir, o ralo sem abertura suficiente para escoar toda a água à rapidez necessária. A barata tentava nadar, e ele tentava acertar-lhe com o jacto da torneira, submergindo-a temporariamente, e deixando-a suficientemente confusa para perder as forças e se deixar levar, aos círculos, pela força centrífuga que fazia a água ao descer semi-lentamente pelo ralo. Irritou-se com a barata por dar tanta luta. "Deixa-te morrer de uma vez". Noutra altura teria apreciado uma barata combativa, mas não o suficiente para a deixar viver. Apenas o suficiente para lhe dar uma pseudo oportunidade. Para deixar toda a água escoar. E para quando ela pensasse que tinha conseguido, lhe deitar novo jacto de água e sentir o seu desespero por o pesadelo não ter acabado, afinal.
Não lhe dava propriamente prazer, este jogo sádico com a barata. A partir do momento em que ela caía na pia, estava à sua mercê. Nunca iria vencer. Se conseguisse começar a subir levaria nova paulada e ou morreria ou continuaria em jogo. Não tinha qualquer hipótese. Mas não se pode dizer que ele tivesse qualquer prazer no processo todo. Não a torturava, não lhe arrancava as patas todas uma a uma. Simplesmente esperava que ela perdesse as forças. Talvez fosse demasiado cobarde para lhe dar o golpe de misericórdia. Mas não era prazer sádico, isso não.
Pelo contrário, sentia-se completamente anestesiado a partir do momento em que a barata caía dentro da pia. Ela não poderia sobreviver. Era uma praga. Não trazia nada de bom. Era nojenta. E ele ia abrindo e fechando a torneira, vendo-a debater-se, farto do tempo que estava a demorar até ela desistir.

Depois pensou em deus. Ou Deus. E sentiu-se barata. Questionou-se se deus seria assim tão indiferente na altura de o levar. Se o faria com uma chinelada, de choque, à bruta, acidente de carro imperdoável ou coisa que o valha. Ou se ficaria, anestesiado, a vê-lo estrebuchar com um cancro ou equivalente, depois de lhe ter dado uma forte paulada seguida de afogamento, sem hipótese. Questionou-se se teria direito a pedir misericórdia, como criatura inferior, depois de ter sido ele próprio tão pouco misericordioso com uma criatura inferior. Depois fartou-se, bebeu um chá com cheirinho e foi dormir, feliz por ter, aparentemente, uma casa livre de bichos.