12 August, 2014

Dust

Hoje consegui finalmente ter motivação para arrumar a minha estante do quarto. Ao fim de... 6 anos? Oink oink. Bem, não há-de ser agora, que finalmente limpei aquela merda (quase literalmente), que tenho de me sentir uma porca. Sempre limpei o quarto. Mas aquela estante, onde incompreensivelmente se iam acumulando coisas e mais coisas, a ponto de me sentir cansada mesmo antes de começar a limpá-la, tornou-se uma espécie de monstro, com lugar cativo num programa tipo "extreme hoarding".

Então hoje, e durante as 6 horas (!!!) que levei a pôr as coisas em ordem, passei por mais emoções do que um bipolar passa num ano inteiro. Tanta coisa escondida, encavalitada em 4 prateleiras. Desenhos a aguarela. "Um beijinho da Mãe". Foda-se, Mãe, beijinhos simbólicos não me tiram as dores. E caramba, porque é que tinhas que desenhar tão bem? Eras perfeita, eu sei. Cartões de parabéns de pessoas que já não reconheço, a dizer que estarão sempre aqui quando precisar. Por momentos perguntei-me, e se ligar agora, e ler este cartão, será que vão dizer "claro, estou sempre aqui. Que se passa?". Ou dirão "querida, cresce, I don't care anymore"? Cartas de amor. Disfarçadas, na altura não pareciam, eu ou era demasiado cega ou não queria ver.

Memórias fantásticas e terríveis, confinadas num espaço de 3x1,5m. Sinto-me estranha. Sinto-me ingrata. Às vezes parece que tenho noção de que realmente, alguém me amou. Mais do que um alguém. E depois esqueço-me e volto a sentir-me unloveable, num total desrespeito pelos sentimentos de quem me provou errada. Sinto-me demasiado confusa entre o inferno que passei e o que inventei, quis ter-me mártir, e desrespeitei todos os que me sentiram como inteira. Está na altura de superar o que foi e o que foi na minha cabeça. Chega de desculpas. Tal como a estante, tenho de arrumar esta cabeça e desprezar tudo o que não passe de entulho.

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