12 October, 2008

Traumas, etc.

Ontem tive uma noite como já há muito tempo não tinha. Uma daquelas noites em que o estado de quase-sobriedade nos dispara o Q.I e nos faz ter epifanias e descobrir verdades (quase) universais em que nunca tínhamos sequer pensado e que de repente parecem tão óbvias.
Foi uma noite boa, em que não chorei, não passei nenhum limite perigoso e pode-se dizer que me consegui aguentar à bronca, que desta vez não foi da minha parte. Ver os outros pior do que nós, quando não é o habitual, pode revelar-se esclarecedor em muitos sentidos.
Como é que nunca reparei nos pequenos grandes traumas dos que me rodeiam, na facilidade com que os pontos mal cozidos das cicatrizes se abrem depois de dois copos de vinho, na dor gritante que os outros (também) sentem? Eu já sabia que todos temos os nossos traumas, mas sabia-o de um modo tipo cultura geral, nunca lhe tinha dado muito valor por pensar que era eu a única com assuntos mal resolvidos e feridas abertas tempo demais. Por talvez pensar que o meu trauma era maior que o dos outros, mais estúpido, mais desnecessário e principalmente mais sobrevalorizado. Ontem vi a verdade. Consegui ver, num grupo de amigos e desconhecidos, as pequenas feridas e os pequenos medos que aumentam proporcionalmente à quantidade de bebida ingerida. Consegui ouvir as notas de dor nas vozes embargadas de cada vez que o assunto roçava arestas mal limadas. Fiquei-me a sentir mais saudável, talvez até mais saudável que eles, mas não sei se me senti realmente melhor. Se somos todos uns traumatizados, onde irei eu encontrar alguém com a coragem, a força e a paciência para me curar do meu próprio trauma?
Não vou. Não vou encontrar ninguém assim porque eu era a última. 3 anos atrás eu era a última pessoa capaz de dar tudo por tudo para matar o trauma de alguém, sabendo (e pressentindo) que poderia cair eu a seguir dentro do buraco. Já ninguém pensa assim. Já ninguém se joga de telhados por ninguém. E fazem eles bem. Porque se jogariam? Porque se anulariam de tal forma por alguém que é só mais um alguém? Já ninguém arrisca com um par de dois. Como posso eu julgar os outros por não lutarem por ninguém, por não saírem da sua área de conforto e por não se atirarem de cabeça, se eu própria fiz tudo isso e caí a pior queda possível? Se por um lado me faz sentir mais "normal" saber que todos somos traumatizados, ao mesmo tempo é assustador ver que na casa dos 20, já não há nada senão desistentes.
Se conseguíssemos ler mentes e ter a certeza de que algo vale a pena, seria tudo diferente. A ausência de certezas não deixa de ter a sua piada, mas torna tudo confuso, e à pala de uns quantos mentirosos temos todos medo de saltar.
Começo a detestar os filmes de Hollywood e as intemporais histórias de amor. Parece que já não há borboletas nem grandes feitos, e detesto a ideia de escolher o "confortável e seguro" ao "intenso e arrebatador".

05 October, 2008

Benvindos.

A era da inocência... Já era. Benvindos à era moderna, em que nada fica e em que nada marca. Benvindos à era em que é tudo fácil, e porco, e sem significado. E enquanto idiotas como eu se roem por terem ido contra os seus princípios, o Mundo ri por ainda haver quem tenha príncipios. E como levantou e muito bem o anónimo no seu comentário, como havemos nós de ser optimistas se p'ensarmos o que pensarmos, fizermos o que fizermos, o pior que pode acontecer acontece sempre??? Estou farta.

Apetece-me ouvir Ornatos. Não sei por que merda passou o Manuel Cruz, mas acho que ele me compreenderia neste momento. Apetece-me mesmo anular-me e ser a merda que esperam que eu seja. Tudo é mais fácil quando não há expectativas.

Estou desanimada e fraca, e tonta demais para acreditar em seja o que for que seja demasiado bom para ser verdae.