24 December, 2013

Letter to a John contemplating life backwards

Apercebi-me de uma coisa. Apercebi-me desta coisa vergonhosamente tarde, porque é tão óbvio.

Tu cresceste depressa demais.


E eu? Eu pensava que nunca mais crescia. Agora apercebo-me também de que cresci na altura certa. Ou pelo menos na altura que para mim é a certa. Tive a inocência e a revolta da adolescência, tive a depressão e a desorientação dos “early twenties”, e agora tenho finalmente a responsabilidade (e o gosto por ela) dos “mid/late twenties”. Estou mais calma, finalmente, só veio agora, não vou questionar porque não veio mais cedo, mas fico feliz por finalmente ter vindo, fico mesmo. Mas eu tive fases, eu tive, de certa forma, uma evolução, que é o que se espera do ser humano, pelo menos no meu ponto de vista. Talvez o teu fosse diferente, talvez para ti o importante fosse atingir cedo um certo patamar. Talvez nem tenhas pensado nisso, simplesmente aconteceu. Mas a verdade é que tu estás absolutamente igual. Igual a sempre. E não se pode dizer que tenhas estagnado, porque tu simplesmente fizeste fast-forward, saltaste por cima das idiotices todas para chegar aqui. E agora não sabes o que raio hás-de fazer contigo, não queres cometer o pecado capital de te perderes agora porque nem quando tinhas idade para te perderes achaste que tinhas idade para te perderes. Eu acho que temos sempre idade para nos perdermos, mas tu achas-me uma perdida e não me irias ligar nenhuma. Mas digo-te, já não sou uma perdida. É tão claro que toda a gente vê, e às vezes achamos que mudámos mas ninguém repara, e ficamos na dúvida, se calhar só queremos é convencer-nos de que mudámos. Mas foi, e por muito que eu o quisesse (em parte mais por ter medo de que nunca viesse a acontecer do que por estar assim tão mal como estava),  é estranho. É bittersweet, ter de assumir que nos tornámos pessoas estáveis quando sempre nos vimos como everything but. É como assumir uma identidade completamente nova, uma que não estávamos a prever, ou aliás, que até estávamos, mas não tão cedo. A mudança é sempre gradual, mas o momento em que te apercebes dela é sempre repentino. Eu fui em frente porque teve de ser assim. Não imagino como seja o oposto, mas se tiveres coragem de descobrir, verás que sobrevives.

14 December, 2013

Humans vs. Humanity

Sometimes, I have this voice screaming inside my head. Most of the time it's saying "Oh, SHUT THE FUCK UP!". Most of the time I keep it inside. I'm too politically correct for my own good. We all change. We all evolve. We'd be damned if we didn't. But I keep bumping against this resistance, this inabillity to hurt those who aren't afraid of hurting me. I've been saying this forever. When treated with disrespect, I'm still afraid to be disrespectful. I have changed so much, and maybe the main thing I've learned is to stop apologizing for being who I am. Who I am is none of your damn business. Yet it always affects me when you say I should be someone else. I should live my life a different way. Why? If you wouldn't be happy living my life, why should I be happy living yours? And isn't happiness all that counts, really? Potatoe, fucking potato. If you're that smart, should I really have to spell it out for you? Tell you the obvious? That's the thing you don't get. Being smart is being humble. Is admitting you know nothing, in the big scheme of things, is knowing you still have a lot to learn and that being open minded is more than just saying you are. I've never had any trouble putting myself in other people's shoes. In trying to understand why they were acting the way they were. Granted, I didn't always agree. But I could pretty much always see their reasons. I always liked analysing people. But not in a bad way. And I was always pissed when they couldn't "get" me. When they didn't even seem to make an effort to understand why I was acting the way I was. Worse, when (as someone told me in that ever hurtful brutally honest fashion), they "didn't want to accept" me. Now. I finally understand that I can't make them. I can't make them like me (this one I always knew), I can't make them accept me, and (newsflash!) I can't make them want to try to understand me. However, I can't stop searching for reasons to explain people's unwillingness to care. And I obviously don't mean they should dive into the other person's problems or go out of their way to try and help, I mean I just want to understand why they don't even feel the need to feel where the person is coming from. Because to me it's like a basic need.

A recent study showed that most young people lack empathy. Another study showed that when asked who would they save if a dog and a person were drowning, most people would save the dog. I believe these are related. I've spend so much time discussing this. I've been accused of not loving animals. And this is when I shoul've said "Oh, shut the fuck up!". I DO love animals. If a dog was drowning, I wouldn't stand by and laugh manically while it drowned. Of course not. I would try to save it. But if a human being was drowning right next to the dog, that would be a no-brainer. It baffles me how people can feel so little for their own species. Intrigued, I dug a little deeper and searched for answers. Someone said "well, if the person was a friend, I would save him/her. But if it was a stranger, I would save the dog, since I had no feelings towards that person.". Again, SHUT THE FUCK UP! To me, this is basic lack of empathy. Something's missing from your brain, darling. A dog is a living being, it feels pain, and joy, and all that, but it doesn't have the dreams, goals, plans that a person has. AND... If you were drowning in a lake and a (choose animal of your preference) was watching, do you think it would lift a finger (paw) to save you? Seriously? C'mon. I love my cat. I talk to her like a typical crazy cat lady. I'll be devastated when she dies. But I would never neglect a human being over her (notice that I call her a her and not a "it", that's how much I care for her). What if your sister/mother/daughter/lover died because someone else chose to save a dog instead of them? Would you still agree with their choice?
Maybe I'm wrong here. I'm not conceited to the point of thinking every one of my visions/choices/values is the universal truth. But it confuses me. It really does. And it also scares me. And it also tells me that I should stop caring for what some people say, as they certainly are the type to choose a dog over a human, and so it's not their fault they can't put theirselves in my shoes and try to understand me. It's probably just some mutated gene affecting many in my generation or something. Something is making humanity less human.

27 November, 2013

The cuckoo that I used to love

Começa sempre da mesma maneira.

“Oh menina, gabo-lhe o gosto…!”
“Cala-te, sargenta”, susurro dentro da minha mente. Não me fascinam bebés fofinhos nem salas de parto menos fofinhas, com gente a dar à luz e a borrar-se ao mesmo tempo, não te posso dizer tal blasfémia, mas é assim, nem me apetece ficar ainda mais assustada com o momento de trazer o meu hipotético bebé fofinho ao mundo. Gente a bater com a cabeça nas paredes não me faz confusão, principalmente porque desconfio que fora do ecrâ dos tv movies não haja muita gente a bater realmente com a cabeça nas paredes. Assustam-me mais os loucos que se fazem de sãos e chamam loucos aos outros para desviar as atenções do que os que estão assumidamente confinados entre quatro paredes. O gajo que mata a tiro a família toda nos subúrbios nunca é descrito pelos vizinhos como maluco. Era sempre um gajo normal. São todos gajos normais.
“Bom, vá lá. O paciente é praticamente da sua idade. Foi internado na sequência de uma overdose de benzodiazepinas, tentativa de suicidio apesar de ele negar. Não está colaborante e não quer aceitar ajuda, mas está perfeitamente consciente e não é fácil lidar com ele. A enfª Silva vai consigo, ele costuma ser muito insolente, tenha cuidado.”
Esta mulher fala como se tivesse engolido a folha de registos. Sorrio à Silva, que revira os olhos e abre a porta, diz que vai fumar um cigarro e que vem já, eu que não me assuste que ele pesa menos de 50kgs, eu dou conta dele. Na pior das hipóteses tenta apalpar-me.

Espreito pela porta aberta, e uma gargalhada ecoa pelo quarto triste. “Mary Jane!!! Hahaha olha para ti! Que merda de bata é essa? Isso não é nada sexy!”. Congelo. Que porra é que eu faço agora? Porque é que me havia de calhar este, de entre todos os loucos e demasiado sãos que me podiam vir parar às mãos? Dou um passo atrás e fico a olhar para ele como se eu fosse uma nova-rica cujo jipe avariou no meio da selva africana e tivesse o leão, imponente, a olhar para mim de olhos a brilhar, antecipando a refeição. Nem 50kgs tem, de facto. A pele acizentada, os olhos encovados e as bochechas entraram-lhe pela cara adentro. Parece a imagem final daquelas aplicações manhosas para iphone em que nos envelhecem 50 anos. Tenho pena, por um momento, e depois os meus olhos encontram os dele. Sinto frio, o mesmo frio de sempre ao perceber o brilho maléfico do costume. Não digo nada, não porque não consiga falar, mas porque não há nada para dizer. O desfecho era mais que previsível, a presença daquele olhar frio naquele quarto mais frio ainda era uma questão de tempo, tal como a sua eventual saída com um carimbo a dizer “caso perdido” (se ele existisse), nova estadia, provavelmente a última, até que aqueles olhos não voltem mais àquele quarto, nem a nenhum. Não digo nada, já disse tudo, demasiadas vezes, demasiado tempo, tendo sempre como resposta uma vulgaridade e uma gargalhada. Não era negação, era admissão e indiferença. A única pessoa com quem vale a pena falar é com o médico, mas não me compete. Não tenho voz e mesmo que a tivesse não me é permitido fazer autópsias. E se fosse, dir-me-iam que o paciente estava vivo. Não está. Não está há muito tempo. Morreu de ódio, primeiro a ele próprio, depois a todos os outros, e depois ainda mais a ele próprio. A degradação física é post-mortem, retardada pelos comprimidos cor-de-rosa, mas inevitável. “Mj, o gato comeu-te a língua? És o meu anjo da guarda, vai comprar um JP para a gente, bora beber. Não acredito que ainda estás fodida comigo!”.
“Isto está errado. Deontologicamente”, gaguejo, e dou meia volta, rodando a chave na fechadura e confirmando 3 vezes, enquanto sucessivos “Mary Janeeeee” escapam através da madeira . Vou à procura da sargenta, digo-lhe que conheço o paciente e que não acho que contactar com ele seja terapêutico, e vou fumar um cigarro lá fora.

Uma voz abafada surge “Menina, tem lume?”. Estendo-lhe o clipper com um meio sorriso. Impecavelmente vestida, quase parecendo mais nova do que é, um tremor ligeiríssimo espalha-se-lhe das pernas até aos cantos dos lábios. “As visitas são às 16h?”, só para fazer conversa, porque deve estar farta de saber. Respondo que sim, e fico a olhar para as nuvens lá ao fundo, que ameaçam chuva. Apetece-me perguntar-lhe se a mancha esquisita do sofá da sala chegou a sair, apetece-me pedir desculpa por ter queimado um tacho uma vez. Apetece-me dizer que a culpa não é dela, que pode não ter sido uma mãe perfeita, mas ninguém o é, apetece-me dar-lhe os pêsames por ter perdido o filho sem o perder, mas não quero que ela pense que eu sou uma paciente com uma bata, a brincar às enfermeiras. Aliso a bata, esboço novo meio sorriso, e volto para dentro, feliz por ter sobrevivido (quase) sem sequelas, por não ser eu dentro de um quarto triste, morta sem estar enterrada. Apetece-me reunir os outros malucos todos e dizer-lhes que mais vale serem malucos com alma do que terem-na perdido como o gajo do quarto 13, mas não quero chumbar no estágio.
À noite no café, perguntam-me “Então, os malucos assustaram-te muito?”.

“Nem imaginas…”.

24 May, 2013

Farewell

Névoa. É tudo o que tenho em mim neste momento. Nem prazer, nem mágoa. Numb, como eu lhe chamava. Numb, como eu queria ser e estar.
Eu, a chorona, a emocional, a irracional, não derramei uma única lágrima. Dizem as más línguas que me tornei insensível. Eu digo que sim, têm razão. Inicialmente queria dizer "não, simplesmente cresci". E não é crescer tornarmo-nos insensiveis, no fundo? Largar as lágrimas e a fraqueza? Mas não, não é politicamente correcto dizê-lo.

Por um lado sinto-me orgulhosa, inchada. Ele vai-se embora e eu, estóica. Faço piadas sobre ir trabalhar para a Máfia, pisco o olho. For the untrained eye não estou a sofrer minimamente com isto. A realidade é um pouco diferente, mas não tanto assim.

Foco-me no bom. E há-o. Gostámos um do outro, e as coisas acabaram, porque não eram sustentáveis. Porque ele vai para o lado (quase) oposto do Globo. E eu, que já quase me tinha convencido que estava demasiado doente para conseguir algo que não fosse destrutivo, vi-me com uma quase-coisa. Uma quase-coisa normal, saudável apesar de tudo, simples. Uma quase-coisa sem frustrações, sem mágoas, sem complicações. Tínhamos tudo para dar certo, mas a vida não estava para aí virada. Há uma parte de mim, admito-o, que pensa, claro que isto tinha que acontecer, agora que finalmente encontro algo que não soa a falso, a vida manda-o para 5000km de distância. Mas não quero ir por aí. Prefiro pensar que encontrei algo que não soa a falso, ponto. Não vou ficar à espera dele. Nem conto que ele fique à minha. Tento ser adulta e dizer coisas positivas, e por mim ele nunca vai saber o que isto realmente me custa, embora eu saiba que ele sabe. E parei de chorar. EU! Há coisas fantásticas...

Mas porra, vou ter saudades. Do que foi, e principalmente do que não chegou a ser.

26 January, 2013

Today I wrote something good. Lately, I haven't. I won't publish what I wrote. Not right now. I need to make it perfect. See, I always write whatever comes out. I don't write. I vomit. But not this thing. This thing is going to be perfect.

I'm not a perfectionist. I like flaws, I love them. And I'm always lost between what is and what should be. Today is no different. Today I was sent a love letter. I'm used to love letters. Really. People send me love letters, and I laugh at them, like the bicth I am. Like the bitch I am to all but to those who deserve my bitchiness. And then I turn around and nullify myself by wanting someone who treats me like shit. Obviously. I am as shitty as they make me, I am as undeserving as I choose to be.

"A loving person often tends to attract all the emotionally messed up people who are looking to get the ego boost and security of feeling loved without having to do anything or feel anything in return."

It's about time I'm a loving person towards myself. Me, the only one who won't fuck me over. They only did because I let them.Enough. Stop being nice. Stop being stupid. Yell at them. FUCK YOU! Go and try the other girl. Just try the other girl. I've opened my eyes. I'll yell at you. I'm tired of getting mad to avoid you getting mad.

13 January, 2013

No meio de todas as confusões, no fim de todas as que me valeram um sermão (merecidíssimo?) de meia hora - miúda, mas anulas-te porquê?- uma mensagem. Queria ter tido coragem para te beijar. Argh. Cringe worthy, a típica mensagem terrivelmente azeiteira, não fosse não o ser. 

Portanto. Cinquenta mil dates, novamente as palavras cringe worthy, não sou boa no flirt, é por isso que bebo, cinquenta mil beijinhos em câmera lenta com esperança que se percebesse a intenção. Nada. Até que finalmente me desgraço, me declaro, e sou rejeitada (não era suposto- falei de ti às minhas amigas -  ficaram super felizes- yada yada yada). Frito-me, quase que parecia um replay da pior de todas, mas não, bastou uma semana e uma tatuagem fatela no pescoço, e bye bye, finito, over it. Eu, que levo sempre um tempo vergonhoso a chegar ao "over it".

E agora, passados 10 meses e picos, ahhh queria tanto ter-te beijado! Are you fucking kidding me, pergunto. "Mas é verdade". Ok. E a maluca sou eu...! Não fosse isto vir de uma pessoa ridiculamente séria, séria no sentido em que não goza com os outros só porque lhe apetece... Nem sei. É too late e ambos o sabemos, e então para quê dizê-lo? Quando o próximo filho de puta hipotética se arrepender será, novamente, too late.  O ego agradece, mas ao eu de nada serve.