05 September, 2017

Random

Eles dizem que a melhor forma de acabar com o writer's block é escrever. Escrever. Escrever, escrever, escrever. Mesmo um monte de merda é melhor do que não escrever nada (será?). Sabes, isto é chato porque não há de facto muita coisa que eu queira fazer antes de morrer. Aliás, há, claro que há, mas só uma delas tem o potencial de me transformar numa alma penada arrependida, mantendo-me presa neste patamar, mas não totalmente, movendo objectos e assustando os não-mortos.

Eu Quero escrever um livro. "Escrever um livro e plantar uma árvore", gozava uma amiga. A culpa não é minha. Não fui eu que resolvi publicar livros de pseudo-celebridades com a ligeireza de quem pede um café. Mas é verdade: hoje toda a gente escreve um livro. Toda a gente que não interessa e que nada tem a dizer. Provavelmente até através de um escritor fantasma, que fica com uns cobres mas não com o crédito, mas nem o quereria, se tivesse alguma dignidade.
Falando em fantasmas, se o meu livro alguma vez se materializar, pode nem ser editado. Posso tentar tudo, e ninguém o querer. Independentemente de induzir o vómito ou ser uma pequena obra-prima. Mas tem de SER. Tem de existir. Há muitas coisas que julguei serem a minha missão neste mundo que não passaram de desvios, de distrações. Só uma permanece.

Mas como? Não quero contos, sem nenhuma razão que o justifique para além de me querer torturar à procura de um princípio, de um meio e de um fim que se interliguem de uma forma que não me envergonhe e que cheguem para 300 páginas, give or take. Ideias já tive muitas. Algumas fantásticas, mas todas essas foram a 30 segundos do sono e a preguiça e a falta de forças (ainda não somos livres de usar a palavra "depressão" sem julgamentos - inclusive nossos?') não me deixaram registá-las. Também uma forma de auto-sabotagem diferente daquela a que estou habituada, sem dúvida. Quero uma algo que seja eu, mas que fuja de mim, que fuja dos meus vícios e dos meus temas já exaustos.


Eu sei que tenho andado convenientemente a enganar-me, dizendo-me e a quem se quiser interessar (ninguém) que quero algo como deve ser, que não tenho maturidade para escrever nada que possa ser levado a sério. E é de certa forma verdade. Li mais do que a média, sim, mas a média não lê nada. Li praí 5 clássicos (dos mais fininhos) e muita merda de que não gostei, por isso se calhar não é merda, os meus gostos é que são. ou, como sempre temi, sou demasiado burra para ver os significados belos e subtis que insistem comigo que existem, quando eu só vejo disparate e pretensão. Falta-me muita estaleca para escrever como quero (originalmente tinha escrito "ser quem quero", interessante), porque ter jeito com as palavras não chega, tudo isto tem uma parte muito calculista, e eu não entendo de calculista nem de racional.
Ainda assim, sei que preciso de algo com que alguém como eu se possa identificar. Não será emo, morria se fosse, mas tem de imitar a vida real no sentido em que tem de deixar claro que as únicas pessoas que acreditam que não há sorte nem azar, ou que nós fazemos a nossa própria sorte - são pessoas que a têm. Quem tem azar sabe - porque não há como não saber. Não é pensamento negativo. Eu não pensava negativamente com 10 anos. Nós sabemos - não importa o quanto isso incomode o racional - que certas coisas não são para nós. E fingir que não soa a falso porque o é. Preciso de personagens que soem a reais, não traumatizadas para shock value, mas reais, com os seus demónios e virtudes. E preciso de construir um mundo em que a empatia não exista e quem a tem seja perseguido como no holocausto. E além deste material para 10 páginas, só um vazio. Talvez se eu continuar a debitar inutilidades os meus dedos ganhem vida própria ou façam um "channeling" (teoria marada que ouvi -  o Pessoa era de facto um canal para aliens e os seus múltiplos heterónimos eram de facto diferentes entidades) e um dia saia algo mais do que um monte de tretas perecíveis, justificadamente.

Ah, e happy endings? Na vida real não há happy endings. Há endings. Não interessa o quão happy tu foste. "Every living creature dies alone" (Donnie Darko), levei horas a pensar nisto, penso que já escrevi sobre isto, a experiência da morte é pessoal e intransmissível, e o facto de isso te deixar desconfortável não o torna menos verdadeiro. Não interessa se tens o teu amor ao lado. Não interessa se ele/a morre ao mesmo tempo. A tua morte é tua. E eis outra coisa que deixa as pessoas desconfortáveis: o facto de a tua vida ter sido uma tempestade de merda não te dá um free pass para um final feliz. Há, realmente, e por mais que não queiram pensar nisso, pessoas que sofrem, sofrem, sofrem e... morrem. Boom. Não sei se vou apostar num final infeliz, mas hollywood endings são hipócritas e hipocrisia não é comigo.

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