08 April, 2008

Pesadelo Cor-de-Rosa

Hoje tive um sonho estranho. Estávamos num sítio lindo, estupidamente lindo, como aquelas quintas onde se fazem casamentos e onde é tudo verde e florido, e com caminhos de pedrinhas às cores, e bancos brancos para nos esticarmos ao sol. Era um sítio tão bonito que chegava a parecer artificial. Pensando bem, acho que estávamos mesmo num casamento. Havia um salão com tectos de vidro, um buffet enorme ao centro, e as pessoas dançavam e riam em fato de gala.

Lá estávamos, os quatro. Os melhores amigos do Mundo. O número perfeito. Todos reunidos naquela amostra de paraíso, a rir alto e a torrar ao sol. Já não gosto de triângulos. Não são confusos o suficiente. Agora prefiro quadrados.


Hora do jantar/ copo de água: sentaram-nos na mesa das crianças, e no fim mandaram-nos jogar ao jogo das cadeiras. Eu não quis, éramos um quadrado unido e entre nós não devia haver competições nem divisões. O jogo das cadeiras é o equivalente infantil da luta pela sobrevivência e do individualismo. Sempre gostei mais de jogos de equipa. Mas os senhores da festa (casamento?) não nos deram hipóteses. A sociedade não gosta de quadrados e a gente madura não os tolera. Os adultos não têm quadrados. Triângulos, talvez. Quadrados não.

O jogo chegou à parte final. Desfez-se o quadrado e apenas restámos dois. Vencemos. Os adultos pôem a música novamente a tocar e mantém as duas cadeiras. Quando a música parar, vamos sentar-nos e seremos só nós. A ideia não me parece má. Respiro fundo, de olhos fechados, e sorrio. A música pára. Dou um passo em direcção à cadeira e caio. Vejo pernas a passar por cima de mim, vejo alguém a sentar-se na minha cadeira. Empurrou-me à má fé e sentou-se. E passou, literalmente, por cima.

Riem-se os dois, tu e ela. Abdicaste facilmente do nosso quadrado. Mas e daí, eu também. Nós ganhámos por alguma razão. Mas também não ligaste ao nosso círculo. Percebo-te. Afinal, isto é apenas um jogo. Que ganhe a melhor, é o que dizem. Fujo pelo salão, vou atrás dos outros perdedores, talvez possamos formar um triângulo outra vez. Já desapareceram. Foram para a mesa dos adultos, tal como tu e a intrusa.

Volto a sentar-me na mesa das crianças. Esta festa perdeu o interesse. Já não tenho com quem brincar.

[O que pensa disto, sr. Freud? Fossem todos os sonhos tão fáceis...]

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