08 April, 2008

all-in my heart

Como é possível levarmos uma vida a construir uma teoria que é derrubada no preciso instante em que chegamos à conclusão de que é perfeita, lógica e com uma margem de erro mínima?

Não tenho muito a dizer sobre este assunto, porque para falar dele tenho de pensar, e pensar implica recordar. E recordar implica tornar de alguma forma mais real. Remoê-lo, dissecá-lo, analisá-lo até à loucura para não chegar a conclusão nenhuma. Eu já tinha recordado o suficiente tudo o que havia para recordar, e agora insistes em jogar a última cartada. Já não me apetece jogar a isto. Quando eu aprendo finalmente a jogar este teu jogo, as regras mudam. Não sou um jogador, sou o peão do jogo.

Neste jogo as acções contam mais do que as palavras, as palavras contrariam as acções. Raramente estão em sintonia, e fico na dúvida sobre qual valorizar mais. Os teus gestos matam-me, as tuas palavras torturam-me. Não consigo adivinhar se tens ou não bom jogo. Dizes que sim. Sorrio presunçosamente a olhar para as minhas cartas. Pode ser que caias. Resulta. Franzes o sobrolho às cartas e desistes. Sais da mesa e levas o dinheiro que te resta. No fim, quando viramos as cartas, gritas "merda! era meu!" e dás um soco na mesa. Eu tinha-te avisado que jogo duplo não funciona com ninguém a não ser comigo. Mas parece que começas a aprender. Já sabes fazer bluff, só é pena que em vez de seguires o instinto, jogues sempre pelo seguro.
- Arrisca!- incito eu.
- Não posso - choras.
- Não podes ou não queres?
- Não posso. Não posso mesmo.
Não querer é vontade própria. Não poder é fraqueza. E a tua fraqueza controla-te, aprisiona-te, faz-te mal. Sempre foi assim. A tua fraqueza é feia para mim. Para ti é irresistível. A tua fraqueza tem forma de mulher.

Mal sabe ela que está a perder terreno. Mas ela que não se preocupe. Sempre gostaste mais dela.

Fazes sempre fold.
Eu sou mais all-in.

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