05 August, 2010

This too shall pass (maybe not)

É um daqueles dias com livros velhos a cheirar a mofo, caixas de pizza e milhares de cigarros em que se dorme, se acorda, se come e se lê, e se volta a dormir. Não se contam calorias nem nicotina, não interessa. É pena que não chova, a chuva e o cheiro a terra molhada é que tornam estes dias perfeitos. Tenho saudades do Inverno. É mais aceitável estar-se triste no Inverno. De facto, é mais feliz estar-se triste no Inverno.

Gostava de viver permanentemente no Inverno, não no metafórico, porque esse já não vai a lado nenhum, mas gostava que o Inverno físico e o metafórico pudessem coincidir sempre. Não sou de introspecções, não sei porquê, nunca fui e quando tento fazer algo que se assemelhe acabo por me perder a meio do caminho, não sei se não me sei analisar por falta de prática ou se tenho medo de mergulhar no meu subconsciente e ser confrontada com o quão doente estou... e não poder voltar para trás. Já chove há tanto tempo, cada vez mais e mais. Enxurradas, derrocadas, desabamentos de terras e casas, e o Mundo ao sol, a assistir. E eu a ser arrastada pela corrente. sem parar, puxada com tanta força e de tal maneira que nem consigo simplesmente deixar-me afogar, porque o lodo é espesso e a corrente é forte, e vai-me arrastando, e eu não tenho forças nem para sair dela nem para me perder nela.

É isso, chove há tempo demais. Não me lembro do que é o Sol, e sei que ele não vai voltar a brilhar. Já passou tempo demais, e não há bombeiros, nem aldeões solidários, nem heróis anónimos que me tirem deste rio de lama. Limitam-se a olhar, uns agradecendo aos céus por terem bom tempo, outros acusando-me não sair porque não quero, que a corrente nem parece assim tão forte. Talvez tenham razão. Mas continua a chover abundantemente e a água não me deixa ver nada. Precisava que alguém me estendesse uma mão, mas ninguém está para se dar ao trabalho. Estou a afogar-me lentamente há quase 3 anos, implorando a um qualquer Deus para me dar um sinal, e ninguém me estende uma mão. 3 anos é demasiado tempo para esperar por algo que nunca vem, e torna-se inevitável acordar e ver que o mais provável é que nunca venha. Algumas pessoas não estã destinadas a ser salvas. Algumas pessoas existem apenas para ensinar uma lição aos restantes. Talvez a não se queixarem tanto. Mas não faz mal, eu já não espero ajuda de ninguém, apesar de ser quase impossível salvar-me sozinha. Mesmo assim, se sair, é pelo meu próprio pé. E se me afogar de vez, a loucura já se instalou de tal forma que nem me vou aperceber que morri. Nem eu, nem eles. No great loss.

Vou voltar aos livros e aos cigarros, porque estou farta de estar triste, estou farta de sentir pena de mim própria, como uma idiota, e não estou ainda pronta para admitir que já não acredito em nada, apesar de ser exactamente isso que se passa. E não quero ser queixinhas, estou farta de ser queixinhas, mas estou a perder a fé em mim e na humanidade outra vez, e só me apetece abrir a janela e berrar a Deus "JÁ CHEGA!!!!!!!!!!!!!!!!". Mas não posso, por causa dos vizinhos.

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