22 September, 2010

Gravity!

O Mundo pesa um bocado, mas não sou eu que o carrego. Hoje não. Acho que todos carregamos o Mundo de vez em quando, até que ele salte para as costas de outra pessoa, num tipo de estafeta interminável.

Acho que foi quando me disseram que tinha enlouquecido de vez que me apercebi finalmente que não fui a única a sentir o peso do mundo e da gravidade. Tenho sido egoísta. Tenho-me feito mártir e tenho fechado os olhos ao martírio alheio. Por incrível que pareça, assim que me declararam maluca descobri a minha sanidade. Talvez por me ter conseguido finalmente abstrair de mim própria e olhar à minha volta com olhos de ver. Não sou normal, porque ser normal implica agir sempre segundo a norma. Ser normal implica nunca ter uma reacção impulsiva, nunca se ser desajustado, nunca ter medos irracionais, e nunca chorar por nada no silêncio do quarto. Entre muitas outras coisas. Desculpem, mas a norma é não se ser normal. E eu não sou. Mas também não conheço ninguém que seja. Conheço pessoas que se esforçam ao máximo. Que pensam duas vezes antes de falar. Que não contam a vida inteira a qualquer estranho que mostre alguma simpatia. Que são contidas. Controladas. Que não se prestam a ser chamadas de loucas e tentam não deixar nada de "anormal" sair cá para fora. Mas lá dentro, o "anormal" existe. Tanto neles como em mim. Eu sou apenas um pouco imatura, um pouco ingénua, um pouco mal resolvida e com tendência a explosões sentimentais, porque nunca me habituei a tentar conter o que sinto. Nunca me disseram que seria preciso. Eu pareço mais louca do que a maioria deles. Mas lendo nas entrelinhas, olhando pela lente de aumento para as vidas dos que amo, sou igual. Se eles são sãos, eu também o sou. E se são loucos, eu só não tenho jeito para disfarçar.

Independentemente de tudo isto, gostei de ver um pouco da bondade humana que julgava extinta. Bondade essa que deveria retribuir. Talvez tentar fazer algo pelas pessoas sem medo que me desiludam, como fizeram agora comigo. Porque afinal, it's not all about me. E se há quem consiga carregar o Mundo às costas e mesmo assim ter a coragem de não pensar só em si, eu devia aprender a fazer o mesmo.


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