01 February, 2014

Now What?

Disseram-me uma vez que eu escrevia num “estilo intimista”. Não tenho palavras para explicar o quanto odeio esta expressão. Nem sei explicar bem porquê, mas odeio. Lembra-me gente pretenciosa (coisa engraçada, odeio sentir que uma palavra está mal escrita, nas "pretensioso" parece ser português do Brazil, portanto)...a dizer falsidades pretenciosas, num bar pretencioso, num ambiente “intimista” (argh), à luz das velas. Não. Não sou eu. Também já me disseram que eu tenho um “estilo confessional”. Não tenho argumentos. Não escrevo nas virtualidades nenhum segredo obscuro que pudesse confiar a um padre, mas também não confio segredos obscuros a padre nenhum. A alma nenhuma. A verdade é que se há estilo a ser definido, o estilo é egocêntrico. Sem desculpas (e não será isto uma desculpa? Diferencio sempre desculpa de justificação e esqueço-me de que para a maioria das pessoas, as duas são equivalentes). Escrevo para mim, de forma menos aberta do que faria a um diário, mas para mim, de qualquer das formas. Se alguém ler e se identificar com alguma coisa, óptimo. Se não, tanto faz. Tenho de ser egocêntrica a escrever porque socialmente levo tanto tempo a ouvir os outros falar que não me sobra tempo para dizer tudo o que quero dizer. E se sobrasse, muito do que me apetece dizer não interessa verdadeiramente a ninguém, e eu sei-o.

Escrever é mais barato e mais eficaz do que psicanálise e afins, e se nunca passei definitivamente para o lado negro, é sem dúvida à escrita que o devo.

Mas… Mas recentemente, sinto-me cada vez mais perdida na minha escrita. Não sei escrever quando estou “bem”. Escrevo para desabafar, para cuspir para o papel tudo o que não posso efectivamente cuspir para a cara de alguém, ou de deus. Mesmo quando escrevo sobre personagens fictícias, só as sei construir ou iguais a mim ou o exacto oposto. Escrevo para me acalmar, para tentar chorar sozinha em vez de em frente a toda a gente (raramente choro sozinha. A pressão de não o poder fazer, por estar gente a ver e a julgar-me, é o que me faz fazê-lo).

Agora, não sei sobre o que escrever. Continuo com mil medos. Continuo com plena noção de mil coisas que podem correr mal. Mil e uma, vamos. Mas mudei tanto que não sei voltar a pegar em nada do que a minha pessoa fez antes de mim. Sinto-me como uma selvagem que foi levada para a sociedade e passa os dias contemplando a sua imagem no espelho, fascinada. Será que toda a gente fica tão abismada por ter mudado? Quer dizer, eu sempre soube que eventualmente aconteceria. Que um dia quereria ser alguém com mais que fazer do que chorar porque o A gosta da ex-namorada, ou o B nunca quis verdadeiramente conhecer-me. Talvez a diferença seja que os outros me veêm finalmente como responsável, como “estável”. E eu, que sempre me vi pelos olhos dos outros, não preciso finalmente deles, mas concordo com eles. Sou estável. Sou saudável. Não tenho piada nenhuma. Retenho um resquício do turbilhão que era, do turbilhão que nenhum conseguiu amar, mas que amava eu, e eu também tenho de contar para alguma coisa.

Hoje acordei, abri o mail de turma. Notas. Notas da professora que eu ia jurar que não gostava de mim, porque ignorava o meu braço no ar e se permitia ser interrompida por miúdos que nem licença pediam. Meio a tremer (porque agora me importo realmente com estas coisas), abri o documento. Lá estava, à frente do meu nome, o 20. Ao fim da tarde chegou o 18, e à noite veio o 19. E é assim. Uma corrente de notas fantásticas, numa área que não é (era) a minha. Amanhã vou jogar-me à vodka, finalmente sem culpas porque é a recompensa merecida depois de semanas como eremita, e não porque estou a tentar afogar qualquer demónio com barbatanas e não tenho mais que fazer. Depois volto a trancar-me em casa com os livros, a socializar com colegas que me veêm como um exemplo (e isto sim, ainda é estranho), a responder educadamente aos e-mails dos profs para o mail de turma, porque mais ninguém parece ter noção de que é suposto fazê-lo, e a vibrar com a monotonia, com a normalidade.

Infelizmente, isto não se traduz num escrito minimamente interessante, mas por muito que em tempos tenha adorado a melancolia e a desperança, hoje prefiro ser feliz do que interessante. Principalmente, e aqui vai o resquício, porque (quase) ninguém me achou suficientemente interessante para me querer fazer feliz.

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