30 March, 2010

Elementar, meu caro Watson

Não há crimes perfeitos, pelo simples facto de que nada é perfeito. Há crimes cuidadosamente pensados, pacientemente programados, minuciosamente efectuados. Há crimes que são uma dor de cabeça para qualquer detective, mas não há, repito, crimes perfeitos.

Há uns bons anos pensei seriamente em ser detective de homicídios. Não levei aquilo mais longe porque conhecendo-me como me conheço, não iria conseguir abstrair da parte gore da coisa. Além de que também não me apetece ficar insensível, o que acaba por ser quase inevitável e necessário à sobrevivência (ou ao menos à sanidade) nestes casos. Mas o bichinho continua cá dentro. Gosto de quebra-cabeças e, não é novidade nenhuma, gosto de casos complicados. E gosto de sentir a alegria das pessoas quando resolvemos problemas por elas.

Se ontem me pedissem para resolver aquele crime, eu estaria completamente clueless. Prestes a desistir, sentada a uma secretária com as costas doridas e os olhos pesados, sentindo-me frustrada e ligeiramente estúpida. Parte de ver o que os outros não veêm passa por um sentimento de auto-validação. É um desafio para nós próprios. Mas este crime transcendia tudo isso. Sim, havia algumas pontas soltas. Mas não levavam a lado nenhum. Sim, havia testemunhas. Mas não se se podiam ter preocupado menos com o sucedido, e passado tanto tempo, a memória estava já demasiado turva. Todas as informações eram contraditórias, e tinham a importância de um grão de areia. O principal suspeito era demasiado inteligente para dar um passo em falso, apsar de a linguagem corporal parecer por vezes incriminatória. O caso estava irremediavelmente perdido.

Pensava eu.

Hoje, precisamente no segundo em que admiti a derrota e me preparei para ir buscar uma caixa e arquivar o caso, tocam à porta. Correio. Um pacote. Vindo do nada, sem remetente, o pacote contém um único item. A prova derradeira e indubitável de como foi cometido o crime, porquê e por quem. O suspeito principal é de facto o autor do crime. E certamente não estava à espera de ser apanhado de forma tão flagrante e tão imprevista, como a que o pacote continha. Confiou demais na sua inteligência, o que parece ser o erro de muitos como ele. O meu coração dispara. Agora sei a verdade. Posso finalmente fechar os olhos e relaxar.

...Então porque é que não consigo?

Saber a verdade não me acalma como deveria. Tenho todas as provas e não sei que fazer com elas.

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