18 May, 2010

O meu Reino por um significado (ainda que falso)

Andamos todos a correr em círculos, cheios de dor-de-burro, ofegantes e com as veias do pescoço e da testa prestes a rebentar, para júbilo de Deuses ou demónios ou seja lá do que for que se diverte em ver-nos em absoluta esquizofrenia em busca de significados que (muito provavelmente) não existem.
Preciso de um minuto para assimilar que o ponto sem retorno foi ultrapassado. Preciso sempre de um minuto quando isso acontece, mas é sempre um minuto, um minuto de silêncio como os que fazemos para honrar vítimas que não conhecemos. Porque sim. Porque é suposto. Porque é bonito. Não é um luto verdadeiro, porque um luto a sério não se faz num minuto. Um luto a sério não se faz numa vida.

Este minuto de silêncio não é um luto a sério por muitas razões que não interessam para nada, mas principalmente porque não é o último. Como todos os que o precederam, foi pensado, decidido, quase que programado (embora não o sendo, de todo). Mais virão, preferencialmente não muitos. Provavelmente sim. São pausas para assimilar que de facto perdemos mais um significado a meio caminho. Não que precisemos delas para nos apercebermos disso. São mais como uma formalidade. Para oficializar a coisa.
Tenho os olhos vermelhos e pesados e tenho uma dor irritante no peito que não sei a que atribuir, mas principalmente sinto-me cansada, porque a soma de todos os minutos de silêncio que já tive que fazer esgota-me sempre e acabo por ficar dias a fio a ter pesadelos macabros e explosões de humor que desculpo sempre com o stress, que não existe mas em que toda a gente mete as culpas. Não é que estas pequenas pausas representem grandes perdas. Claro que não. É só mais um significado que não foi. Só mais uma consciencialização de um nada de que tentámos fazer sentido. Dizem que estas pausas são terapêuticas, mas a verdade é que são inúteis quando o trauma não é suficientemente grande para justificar terapia. Não me custa particularmente tomar decisões necessárias (por falta de alternativas) mas não gosto de chegar ao fim da linha e ver que já lá tinha chegado e não me tinha apercebido. Logo eu, que tenho a mania das premonições. Não é que me doa, mas faz-me sentir estúpida.
Talvez faça só 30 segundos de silêncio desta vez. Não me vou dar ao luxo de perder mais tempo.

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